Afirmou que existem vários fatores a apontar uma possível elevação da inflação. E, creiam!, ele evocou o desastre do Rio Grande do Sul vis-à-vis o preço dos alimentos e a questão fiscal. É claro que o país precisa ficar atento a isso tudo, mas indago: cabe a tal autoridade ficar babando pessimismo por aí e se comportar como um anunciador de temporais, agora na economia? É um despropósito. O que aconteceria com alguém que trilhasse esse caminho na iniciativa privada?
E avançou ao elencar os tai “fatores”, além da questão fiscal: o tema externo — suponho que se referisse aos juros elevados nos EUA — e “a credibilidade do BC”. Como é???
Credibilidade do BC??? Certamente o sr. Campos Neto considera que são dignos de todas as honras ele próprio e os outros quatro que mandaram à “zerda” o chamado “forward guidance” do BC — votando por uma queda de 0,25 ponto nos juros — e que perniciosos e ameaçadores são os que cumpriram a palavra empenhada.
Essa fala é muito perigosa. Quando os “fanáticos do campismo” começaram a falar da “divisão do BC”, identificando com o governo os quatro que votaram a favor do cumprimento da palavra do próprio banco, estava na cara que o que se pretendia, desde aquele momento, era pôr sob suspeição um Copom que terá sete dos nove membros indicados por Lula no começo do ano que vem. Todos terão de ser aprovados pelo Senado, conforme a lei da autonomia.
Informou o site InfoMoney — insuspeito de, sei lá, alguma heterodoxia — no sábado, referindo-se à sexta:
“Dadas no meio da tarde, as declarações de Campos Neto reforçaram o movimento de alta de juros e câmbio. Depois de passarem a metade do dia em queda, os contratos de juros inverteram o sinal e começaram a subir. Por volta das 17h15, as taxas dos contratos de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 avançavam de 10,390%, na quinta-feira, para 10,405%, enquanto a do DI para janeiro de 2027 subia de 11,080% para 11,135%.”
Importa pouco, leitor, saber que lugar você ocupa no debate: se está entre aqueles que pensam que o governo faz a coisa certa; se avalia que ele só faz besteira; se considera que ora acerta, ora erra… Isso é do jogo, segundo escolhas, valores, alinhamento ideológico etc. É tudo legítimo. As sociedades são assim mesmo.