
Neste sábado em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo inaugura a exposição Vetores-Vertentes: Fotógrafas do Pará.
A mostra, inédita, traça um panorama da fotografia feita por mulheres amazônicas, apresentando a pluralidade do Pará capturada por meio do olhar de 11 grandes fotógrafas da região.
A mostra nasce de um extenso trabalho de pesquisa que vem sendo realizado há mais de uma década e propõe reflexões sobre questões envolvendo a identidade, o território e a memória.
O projeto é do Museu das Mulheres e tem curadoria de Sissa Aneleh, que também é diretora do museu e que conversou com a Agência Brasil:
“Nessa mostra estamos apresentando um capítulo da história da fotografia brasileira que está faltando incluir: as mulheres, em especial as mulheres do Norte.”
As cerca de 180 obras apresentadas – entre fotografias, áudios e vídeos – revelam a força e sensibilidade das narrativas visuais que traduzem a riqueza cultural e social da Amazônia, muitas delas atravessadas pelo olhar feminino e pela resistência de mulheres que fazem parte desse território.
“Quando a gente fala em Amazônia, a gente logo imagina que a Amazônia é floresta, povos indígenas e povos africanos, mas a gente também tem um lado urbano e contemporâneo [apresentado na exposição].”
Gerações
A mostra traça um panorama de mais de 40 anos de produção fotográfica feminina na Amazônia, reunindo gerações de artistas que exploram desde a experimentação visual até a documentação social.
A mostra é composta por trabalhos de Bárbara Freire, Cláudia Leão, Leila Jinkings, Paula Sampaio, Walda Marques, Evna Moura, Deia Lima, Jacy Santos, Nailana Thiely, Renata Aguiar e Nay Jinknss.
“Pela primeira vez estão reunidas três gerações de fotógrafas do Pará. A primeira geração, que eu considero como as pioneiras, são pioneiras da fotografia objetiva, documental e de viagem. Há também as fotografias experimentais, que já são um outro grupo de artistas que estão trabalhando hibridismo e tecnologias na fotografia. E há as fotógrafas voltadas para o contemporâneo, mais híbridas e com outros elementos artísticos e estéticos”, explicou a curadora.
Essas fotografias mostram não só a natureza exuberante do Norte do país, como também os costumes, culturas e as pessoas que vivem e fundamentam essa região, principalmente as mulheres. Entre elas, as erveiras do Mercado Ver-o-Peso, de Belém, um dos mercados públicos mais antigos do país.
“Qual é o grande diferencial da fotografia feminina artística paraense? O foco é o universo feminino. O foco são as mulheres de todas as idades, etnias e religiosidades. Temos um universo vasto plural do feminino.”
“Os vetores que guiam as mulheres [fotógrafas do Pará] é toda a cultura e a identidade que fazem com que elas tenham essa preferência pelo que é local ou regional”, destacou.
Outra característica fortemente relacionada a essas fotógrafas é o afeto. “Uma coisa muito interessante também é a fotografia afetiva porque existe um olhar muito carinhoso sobre essas mulheres de todas as idades, de todas as etnias e diversidades humanas”, explicou a curadora.
“Para elas fotografarem é preciso haver uma intimidade muito grande com a pessoa fotografada, uma proximidade e um respeito.”
Percurso
A exposição tem início no 4° andar do CCBB e segue até o subsolo, permitindo até mesmo uma experiência sensorial. As paredes dos dois andares iniciais, por exemplo, têm a cor do açaí branco e as fotografias apresentadas são mais experimentais, voltadas à manipulação de imagens.
Já o 2º andar é mais colorido e tem suas paredes pintadas na cor mais conhecida do açaí, fruto brasileiro que é cultivado principalmente na região amazônica. Esse andar destaca as narrativas afro-indígenas e quilombolas, ressignificando o poder da imagem como instrumento de resistência e afirmação cultural.
Aqui também a fotografia é explorada como registro da cultura, da religiosidade e do cotidiano amazônico. As imagens apresentadas nesse andar capturam a vida ribeirinha e urbana e as festas populares, como o Círio de Nazaré.
No térreo, a experiência é mais imersiva e sensorial. Ali foi instalada uma oca, que serve de cenário para se assistir a um filme em Realidade Expandida. O filme Mukatu’hary (Curandeira) conduz o visitante a uma aldeia indígena de paisagem milenar para uma imersão na musicalidade e nos rituais ancestrais de Maputyra Guajajara.
No subsolo, por sua vez, a exposição apresenta trabalhos em preto e branco, ressaltando a relação entre regionalidade, território e memória. As obras expostas reafirmam que a fotografia é mais do que um registro – é um meio de contar e preservar histórias.
Atividades extras
Por diversos pontos do edifício, o visitante poderá completar sua experiência com Realidade Aumentada, que será acionada por meio de QR Codes espalhados pelos andares do CCBB.
No segundo andar também há a instalação aromática, inspirada nas mulheres indígenas, e que aproxima os visitantes dos cheiros da Amazônia com seis perfumes preparados exclusivamente para a exposição.
Na tarde deste sábado, a partir das 14h, haverá a apresentação Som em Cena: Encantarias Amazônidas, uma experiência sonora. E a partir das 16h começa o show Vertentes: Ritmos do Pará, com Ellie Valente e Liége. Toda a programação é gratuita.
Além disso, durante o período expositivo devem ocorrer performances, oficinas de produção de amuletos, contação de histórias, mediação de leitura e atividades infantis tais como oficinas de fotografias.
Mais informações sobre a exposição, que fica em cartaz até o dia 5 de maio, podem ser encontradas no site. A entrada no CCBB em São Paulo é gratuita.