Em um planejamento financeiro eficaz, três pontos principais devem ser considerados: o conjunto de receitas e despesas, metas ou objetivos e a necessidade de proteção caso algo inesperado aconteça. Infelizmente, a maioria das pessoas para no primeiro ponto, esquecendo que, se algo der errado e você não tiver proteção, suas receitas, despesas e metas ficam comprometidos. Vou compartilhar um exemplo prático para mostrar como a análise de proteção pode ser tão crucial quanto os outros aspectos do planejamento.
Antes de mergulharmos no caso, é importante ressaltar que os seguros servem a vários propósitos. Muitos leitores provavelmente têm seguro saúde e seguro de carro, os dois tipos mais comuns. Em geral, desconheço quem afirme que o custo destes seguros seja barato.
Por exemplo, no ano passado, usei menos de 10% do valor pago no seguro saúde para atendimentos médicos. Talvez você esteja na mesma situação e pense que foi caro, ou que o seguro de automóvel custou demais porque não houve incidentes nos últimos anos. Mas será que esta é a forma correta de avaliar o valor de um seguro?
Você já deve ter percebido meu ponto: o seguro é pago para cobrir o risco de algo acontecer, e não porque isso não aconteceu. Portanto, ao elaborar um planejamento financeiro, o primeiro passo para avaliar do que é necessário se proteger é entender de qual risco você deseja se resguardar.
Vamos ao caso de Marcelo, um nome fictício para preservar sua identidade. Ele tem 40 anos e uma renda mensal de R$ 30 mil líquidos após impostos. Sua esposa está em transição de carreira e ao mesmo tempo cuidando do filho recém-nascido.
As despesas mensais da família chegam a R$ 27 mil, tornando o orçamento apertado devido à falta de renda da esposa, embora ainda consigam poupar 10% da renda líquida. O patrimônio financeiro de Marcelo é de R$ 700 mil, suficiente apenas para cobrir pouco mais de dois anos sem renda, caso algo aconteça com ele.
A ausência de sua renda seria um risco financeiro significativo para a família, especialmente com um filho recém-nascido. Sua esposa pode voltar a trabalhar nos próximos dois anos, mas nada garante que ela conseguirá substituir a renda de Marcelo.
Além disso, os custos da criança estão apenas começando e eles já consideram que Carla terá de voltar ao trabalho para contribuir com as despesas crescentes, à medida que o filho cresça.
Dado este cenário, faz sentido proteger a família contra esse risco financeiro? Qual seria o montante necessário para cobrir o risco?
Existem várias formas de avaliar, mas vou descrever duas que discutimos. A primeira seria a de cobrir integralmente sua renda de R$ 27 mil mensais até a criança atingir 24 anos.
Para isso, o capital necessário para cobrir este risco seria de R$ 5,2 milhões, já subtraído o montante em aplicações financeiras que ele possui. Para encontrar este montante, basta calcular o valor presente do custo mensal da família pelos próximos 24 anos. Este seguro, pelo prazo de 25 anos, custaria R$ 2.042,92. É importante ressaltar que o prêmio ou custo a ser pago mensalmente não aumenta com a idade, mas é ajustado conforme o IPCA, assim como o capital segurado.
Como Carla deve voltar a contribuir com a renda em breve, a cobertura pode ser revisada assim que ela se estabelecer.
Uma segunda opção seria Marcelo cobrir apenas os custos da criança até ela atingir 24 anos. Com Carla de volta ao mercado de trabalho, seus custos pessoais podem ser cobertos pela própria renda. Supondo que os custos da criança (educação, alimentação, moradia e lazer) somem R$ 10 mil mensais, o capital segurado necessário seria de R$ 1,5 milhão, resultando em um prêmio mensal de R$ 589,3.
A questão a refletir é: vale a pena economizar R$ 589,3 à custa de um risco financeiro tão sério?
Assim como nos seguros de carro e saúde, o prêmio pode parecer caro se nada acontecer. Mas, caso algo ocorra, o seguro de vida será um investimento valioso, e Carla agradecerá a Marcelo por não ter economizado.
Ressalto que o evento morte é apenas um dos riscos que Marcelo pode escolher proteger. Há também riscos de acidentes, invalidez e doenças graves, além da possibilidade de usar o seguro como ferramenta de sucessão patrimonial. Mas falaremos sobre esses tópicos em outra ocasião.
Como disse Benjamin Franklin: “Falhar em se preparar é preparar-se para falhar.” Construa um plano financeiro, avalie os riscos e esteja preparado para lidar com eles.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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