“Os impactos ambientais mais relevantes no estado, relacionados ao cultivo de arroz irrigado, estão associados às transformações das várzeas inundadas para o uso de sistemas de irrigação por inundação; e a drenagem de banhados”, aponta análise da Universidade Federal do Rio Grande do Sul sobre questões ambientais das áreas úmidas. “Na Bacia do rio Gravataí, no nordeste do estado, ações relacionadas à orizicultura causaram, ao longo dos anos, uma série de modificações na dinâmica hidrológica do rio e nas áreas úmidas, implicando em relevantes impactos ambientais. Além disso, a retirada de água para a irrigação do cultivo nos meses de verão, tem gerado conflitos entre as demandas para o setor agrícola e o abastecimento público”.
As APPs, quando bem aproveitados, favorecem também a produção agrícola, como explica documento da Embrapa sobre os serviços ecossistêmicos. “As paisagens multifuncionais beneficiam os sistemas produtivos na medida em que mantêm o fluxo de serviços ecossistêmicos entre áreas naturais, como as Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal, e áreas cultivadas, mantendo a sustentabilidade destes”.
Na agropecuária, segundo a Embrapa, a ciência também tem se dedicado a conciliar os benefícios de se preservar mata nativa nas propriedades a favor da produção. Tais técnicas envolvem que os produtores planejem paisagens agrícolas “manejadas”, alternando lavouras a trechos preservado da vegetação natural e habitat para a fauna local.
Rovedder diz que, em tempos de eventos climáticos extremos, proteger as APPs é apenas um dos esforços necessários para evitar novos desastres. “Porque mesmo onde temos as áreas de preservação permanente, de encosta e de rio, neste momento extremo a paisagem não conseguiu resistir”, diz.
Para além dos riscos de novos desastres, permitir que o setor agrícola acesse a água das APPs em momentos de escassez de água aumenta a competição por água, tornando-a mais escassa para a população que divide as mesmas bacias hidrográficas. “Permitir essas intervenções nas APPs é um grande erro”, avalia o eco?logo Marcelo Dutra da Silva, doutor em ciências e professor de Ecologia na Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
“Eu aumento a competição da água da APP, que já é pouca para a bacia. E, além disso, eu interfiro ainda mais na natureza”, ressalta Silva recomendando estratégias diferentes. “Eu estimularia que tivéssemos mais sistemas de reservação de água, na forma de açudes, para os períodos de chuva. É mais caro, mas temos que preservar as APPs. Tem que haver um esforço na direção contrária do que temos tentado fazer até hoje”.