Eleita a primeira presidente mulher do México, Claudia Sheinbaum assumirá o cargo em 1º de outubro, um mês antes das eleições nos EUA, na qual ambos os candidatos — o atual presidente Joe Biden e seu antecessor, Donald Trump — dependem fortemente do país vizinho como aliado e primeiro parceiro comercial e disputam a narrativa de quem é mais competente para controlar o fluxo migratório na fronteira.
Sob pressão, Biden, por sua vez, tende a endurecer o tom: o presidente estava à espera pela definição do pleito mexicano para anunciar, possivelmente já esta semana, uma ordem executiva com o objetivo de amenizar os ataques do campo opositor contra a sua reeleição.
A medida presidencial visaria, segundo antecipou a CNN, a limitar a capacidade dos migrantes de procurarem asilo na fronteira e tentar reprimir a entrada ilegal, mantendo o número de passagens o mais baixo possível nesta fase da campanha.
Funcionários do governo Biden não descartam o fechamento da fronteira, como medida emergencial antes das eleições de 5 de novembro. Sheinbaum já deixou claro que discorda desta solução.
Desde que o fluxo atingiu um novo recorde em dezembro de 2023, com aumento de 31% de chegadas nos EUA em relação ao mês anterior, os dois governos realizaram reuniões até obterem uma queda pela metade.
A medida foi suspensa por um tribunal federal, mas a presidente eleita, Claudia Sheinbaum, declarou durante a campanha que não receberá deportados de estados americanos e discutirá o assunto apenas no nível federal.
Em seu discurso de posse, ela reforçou os termos desta relação com o país vizinho: “Com os Estados Unidos, haverá relação de amizade, respeito mútuo e igualdade, e sempre defenderemos os mexicanos que estão do outro lado da fronteira.”
Claudia Sheinbaum comemora após ser a primeira mulher eleita presidente do México. — Foto: Alexandre Meneghini/Reuters
Outro tema crucial na relação entre dois países é o tráfico de drogas, como o fentanil, responsável por uma epidemia e 96% das mortes relacionadas a overdoses nos EUA.
No lado mexicano, representa a violência ligada aos cartéis, que transformaram o processo eleitoral encerrado no domingo num pesadelo, com 321 casos de ataques a candidatos e 94 assassinatos.
É preciso levar em conta que, nos casos da migração e do combate ao crime organizado, o pragmatismo na relação bilateral supera o tom incendiário adotado pelo ex-presidente Donald Trump em seus comícios, que funciona como mola propulsora para obter votos.
Em 2016, o republicano fez da construção de um muro na fronteira sul, que seria pago pelo México, a base de sua estratégia eleitoral para conquistar a Casa Branca.
Anunciou também a deportação em massa dos imigrantes sem documentos — estima-se que há 11 milhões espalhados pelo país. Não conseguiu em seu mandato cumprir nenhuma dessas promessas.