Joe Biden, Emmanuel Macron, Olaf Scholz e Justin Trudeau, os líderes dos Estados Unidos, França, Alemanha e Canadá, respectivamente, tentaram incluir a frase, e houve um conflito nos bastidores com a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, que exigiu que se eliminasse esse trecho do texto.
A primeira-ministra italiana, contrária ao direito ao aborto, contou em uma biografia que, quando a própria mãe estava grávida dela, quase interrompeu a gravidez.
Em abril, o governo italiano deu permissão para que grupos antiaborto tentem convencer mulheres a não abortar dentro das clínicas especializadas no procedimento.
No encontro do G7 do ano passado, o documento final defendia o direito ao aborto seguro e legal. No entanto, neste ano, isso não deve acontecer pois a primeira-ministra Meloni insistiu para que a expressão seja excluída do texto, segundo autoridades ouvidas pela agência de notícias Reuters e pelo “The Washington Post”.
Diplomatas americanos, franceses, canadenses e alemães fizeram pressão para que a frase conste no texto. De acordo com o “Washington Post”, Biden, que tenta se reeleger nos EUA neste ano e defende o direito ao aborto em sua campanha, ameaçou até mesmo não assinar o documento se a frase não for incluída.
Um diplomata disse à agência Reuters que essa era uma questão que Meloni não abriria mão, então a expressão foi cortada e que provavelmente o texto final terá uma referência apenas indireta, na qual os signatários dizem que reiteram os princípios defendidos no documento do ano passado, mas sem explicitar isso em palavras.
Indiretas nas entrevistas
Macron, da França, falou a jornalistas sobre o tema. Ele disse que na França há igualdade entre homens e mulheres, mas que essa “não é uma visão compartilhada por todos no espectro político”.
Em entrevista a jornalistas, Meloni respondeu sem citar o nome do presidente francês. Ela falou que “é profundamente errado, em tempos difíceis como esses, fazer campanha (para eleições) usando um fórum importante como o G7” —foi uma insinuação sobre Macron, que no último dia 9 de junho convocou eleições legislativas para a França nos dias 30 de junho e 7 de julho.
Líderes enfraquecidos se reúnem na Itália para cúpula do G7
A Cúpula do G7 começou na quinta-feira na Itália, com a presença de líderes dos países-membros e convidados. O presidente Lula vai participar do encontro como convidado.
O principal tema da cúpula é a ajuda à Ucrânia, que está em guerra contra a Rússia desde fevereiro de 2022 e pede ajuda ao Ocidente diante da escassez de recursos financeiros e militares. Antes do encontro, na noite de quarta-feira, os líderes do G7 fecharam um acordo para destinar à Ucrânia US$ 50 bilhões (cerca de R$ 270 bilhões) este ano respaldado em ativos russos congelados, segundo a Presidência francesa.
A cúpula acontece em um momento de pressão aos líderes dos países do bloco após o avanço da extrema direita nas eleições para o Parlamento Europeu e as eleições nos EUA, França e Reino Unido.
Veja abaixo o que é o G7 os principais pontos sobre a reunião:
O G7 é um bloco informal de democracias industrializadas que se reúne anualmente para discutir questões e preocupações compartilhadas.
Que países fazem parte do bloco
Fazem parte do G7 Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Japão.
O que de importante está sendo discutido
O grupo usará a cúpula para discutir desafios relacionados à Inteligência Artificial, migração, o ressurgimento militar russo e poder econômico da China, entre outros tópicos. O apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia será o principal tópico da reunião –os membros do G7 são aliados da Ucrânia.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e Zelensky vão assinar um acordo bilateral com o objetivo de enviar um sinal à Rússia sobre a determinação americana em apoiar o governo ucraniano, informou a Casa Branca.
“Queremos demonstrar que os EUA apoiam o povo da Ucrânia, que estamos ao lado deles e que continuaremos a ajudar a atender suas necessidades de segurança”, disse o Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, acrescentando que “este acordo mostrará nossa determinação”.
Jake Sullivan disse que o acordo não levará ao posicionamento de tropas americanas diretamente na defesa da Ucrânia — esta é uma linha vermelha traçada por Biden, que teme ser puxado para um conflito direto entre as potências nucleares.
A Ucrânia está em guerra contra a Rússia desde 24 de fevereiro de 2022, quando tropas de Vladimir Putin invadiram o território ucraniano e lançaram uma ofensiva militar. Com os extensos combates, a guerra virou questão de sobrevivência, quem consegue durar mais. Apoiado pelo Ocidente desde o início da guerra, a Ucrânia vem enfrentando uma escassez de recursos econômicos e militares e o presidente Zelensky pede aos aliados mais apoio. Em maio, a Rússia rompeu uma estagnação na guerra e está em nova fase de ofensiva.
A Ucrânia e muitos de seus apoiadores têm pedido o confisco de US$ 260 bilhões (cerca de R$ 1,4 trilhões) em ativos russos congelados fora do país após a invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022. Segundo oficiais europeus, havia dificuldades para costurar o confisco devido a preocupações legais e de estabilidade financeira, porque a maioria dos ativos russos congelados está localizada na Europa.
Os US$ 50 bilhões (cerca de R$ 270 milhões) confirmados para a Ucrânia este ano terão como base esses ativos congelados na União Europeia e virão intermediados por empréstimos dos EUA a partir dos rendimentos deles — cerca de US$ 2,5 bilhões a US$ 3 bilhões anuais nas taxas de juros atuais.
Antes da reunião, os EUA aplicaram novas sanções econômicas à Rússia, em mais de 4.000 empresas e indivíduos ligados ao país.
Sobre a imigração, os EUA e outras nações do G7 estão lutando para gerenciar grandes influxos de migrantes que chegam por razões complicadas que incluem guerra, mudança climática e seca. A migração e como as nações lidam com o número crescente em suas fronteiras tem sido um fator impulsionando o aumento da extrema direita em algumas partes da Europa.
A cúpula, que começa na quinta-feira, acontecerá após partidos de extrema direita em países do continente europeu acumularem vitórias em seus respectivos países nas eleições do Parlamento Europeu, que finalizaram no último final de semana.
Essas vitórias, juntamente com as eleições no Reino Unido, França e Estados Unidos, abalaram o establishment político global e adicionaram peso a esta cúpula.
“Você ouve isso muito quando fala com oficiais dos EUA e da Europa: se não conseguirmos fazer isso agora, seja em relação à China, seja em relação aos ativos, podemos não ter outra chance”, disse Josh Lipsky, diretor sênior do Centro de Geoeconomia do Conselho Atlântico, um think tank de assuntos internacionais. “Não sabemos como será o mundo em três meses, seis meses, nove meses a partir de agora.”
A primeira-ministra italiana Giorgia Meloni vai utilizar a Cúpula do G7 como plataforma após a vitória de seu partido nas eleições do Parlamento Europeu na Itália.