Habituada a trabalhar com a inclusão, após dirigir “Hamlet” com atores com síndrome de Down, a dramaturga peruana aborda outra grande peça de teatro com um elenco inusitado: dos 12 atores da companhia do Centro Dramático Nacional de Madri, apenas dois podem enxergar. Os outros 10 são cegos ou deficientes visuais (com apenas 10% de visão).
Mas no palco, sem bengalas ou óculos escuros, o público não sabe quem é cego e quem não é.
Chela de Ferrari brinca com preconceitos. Com fones de ouvido e um bloco de notas na mão, explica que quer “tornar visível o invisível”, e descreve ao público os móveis e cenários que faltam, enquanto detalha o público para o elenco.
Nina, interpretada por Belén González, cega e atriz não profissional, sobe ao palco. A jovem de 25 anos desfila pelo espaço, no qual por vezes tem que procurar o ombro de seu companheiro de cena Agus Ruiz, que não é cego nem possui deficiência visual, que interpreta o papel de Boris.
“Vejo Belén e me sinto absolutamente fascinado porque uma atriz com visão nunca conseguiria como ela faz”, diz Ferrari, que não quer “romantizar nada”.
– Adaptação “fundamental” –
A companhia tem apenas 38 dias de ensaio, com cenas que incluem diversas danças coletivas, uma com música techno que repete versos do texto de Tchekhov e uma cena delirante de karaokê.