Segundo ele, as imagens da ocorrência não são conclusivas e todos os detalhes da ocorrência precisarão ser apurados pela Polícia Civil.
“Me parece que houve uma falha técnica e essa falha técnica de qualidade, de qualificação, de avaliação tem que ser dividida com a Polícia Militar, quem sabe até que ponto foi uma decisão dos policiais no momento, se eles tinham embasamento técnico fornecido pela instituição ou não. Tem que ser tudo respondido no caso da Polícia Civil”, explicou o especialista.
A Polícia Militar informou que possui um programa contínuo de capacitação e qualificação dos policiais, incluindo o uso de armas não letais e técnicas de abordagem. Afirmou que a PM atendeu outros 54 casos similares em Araguaína sem que estes tenham culminado em morte por intervenção policial, e está colaborando com as investigações do caso. (Veja nota completa abaixo)
O coronel Robson Rodrigues atuou em vários órgãos da Segurança Pública do Rio de Janeiro ao longo da carreira militar. Diante das informações sobre a abordagem, ele explicou que há hipóteses que, em tese, podem ter resultado no não uso de armas não letais. Entre elas, a falta de informação sobre a real situação psíquica do homem e possível despreparo ao usar armas não letais.
“É possível que em uma ocorrência policial, a polícia de preservação da ordem, a primeira a ser acionada, é plausível que vá se deparar com elementos turbulentos. Então caberia à instituição ações preventivas do tipo qualificação policial, análise de probabilidades de que isso ocorra, estudos de comportamentos para que possa dá a melhor resposta e, evidentemente, além do treinamento dos policiais, o equipamento adequado, porque à polícia cabe uma repreensão até com uma força letal no extremo da situação de risco”.
Segundo ele, a polícia precisa fazer o uso gradativo da força. “Então você tem que ter ao seu alcance [dos policiais] conhecimento técnico para usar esse equipamento menos letal”, explicou.
No caso da abordagem a Iranilton da Silva, o especialista sugeriu, dentro das condições possíveis conforme a atitude filmada por testemunhas, que o uso de uma pistola eletrônica, de pulso magnético, poderia ser suficiente para imobilizar o homem.
Como isso não ocorreu e diante da suposta da falta de ‘tempo’ para agir de forma que não fosse necessário matar o homem, o coronel e pesquisador comentou:
“Quem é treinado, quem sabe os efeitos da pistola de pulso elétrico sabe perfeitamente que já deveria estar com ela na mão ou com porte imediato. Se está com quem está em surto psicótico que não está armado com arma de fogo, mas sim com arma branca, e todas essas informações já deveria ter sido trazida para a equipe que iria abordar o caso, então se não deu tempo de pegar a pistola de pulso elétrico não daria para pegar a pistola letal”, pontuou Robson.
Momento em que policiais disparam vários tiros contra homem — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Coronel diz que morte precisa ser apurada
Segundo o coronel, somente após a apuração das circunstâncias da morte do homem, de responsabilidade da Delegacia de Homicídios, será possível apontar a dinâmica da ação dos policiais e se realmente eles ficaram impossibilitados de usar arma não letal para preservar a vida de Iranilton.
“Houve um crime, o que agora vai apurado é se eles reagiram em legítima defesa na iminência de uma agressão. Só quem pode dizer é não só eles, mas eventuais testemunhas e evidências materiais, ou seja, as provas que vão ser colhidas, ou se já não foram, pelo pessoal da perícia”, explicou.
Questões relacionadas à perícia dos policiais no manejo dos equipamentos e se esse tipo de ação segue os protocolos de abordagem também devem ser apurados na investigação, segundo o especialista.
Robson ressaltou ainda que para além da estrutura policial, esse tipo de ação também pode levar em consideração fatores individuais, ou seja, a decisão dos policiais no momento da abordagem. “De prática, geralmente é uma concorrência desses dois fatores, tanto os estruturais como os individuais. Quem vai definir isso com mais clareza, às vezes não define por ‘N’ fatores, mas quem tem a condição é quem vai fazer a investigação disso, que é a Polícia Civil”, disse.
Policiais tinham armas não letais à disposição
Os policiais que abordaram e mataram a tiros um homem que estava em surto psicótico em Araguaína, norte do estado, portavam armas não letais, mas os equipamentos não chegaram a ser utilizados.
Em nota, a Polícia Militar explicou que ao tentar conter o homem, ele soltou dois cães da raça pitbull, que feriram um dos policiais. Além disso, um integrante da equipe até tentou usar a arma não letal, mas “a rápida e agressiva sequência de eventos impossibilitou essa ação”.
Após a morte e questionada pela reportagem, a PM afirmou que segue rigorosos procedimentos de treinamento e possui diversas ferramentas de menor potencial ofensivo. Também explicou que todas as Unidades Policiais Militares são equipadas com dispositivos não letais, como espargidores lacrimogêneos, dispositivos eletrônicos de controle e espingardas com munição de borracha.
O que diz a Polícia Militar
Em resposta à solicitação da imprensa sobre a ocorrência de uma pessoa morta em confronto, em Araguaína, a Polícia Militar do Estado do Tocantins (PMTO) esclarece que:
A PMTO possui um programa contínuo de capacitação e qualificação dos seus policiais, incluindo o uso de armas não letais e técnicas de abordagem. Destacamos, no entanto, que cada situação de confronto tem suas peculiaridades, e as decisões em campo são tomadas com base na percepção imediata de risco e na necessidade de neutralizar ameaças à integridade física dos envolvidos.
Só neste ano, em Araguaína, a PM já atendeu 54 casos similares, envolvendo pessoas em surto psiquiátrico, provocando risco iminente a si e a terceiros, sem que esses tenham culminado em morte por intervenção policial.
Conforme destacado pelo especialista, as imagens não são conclusivas e todos os fatos serão apurados com rigor pela polícia judiciária. A PMTO está colaborando integralmente com as investigações para garantir que todas as circunstâncias do ocorrido sejam esclarecidas.