Escrevo, logo existo.
Para um colunista longe da Folha havia nove meses, o sentimento é este: escrevo, logo me entretenho.
Por mais que os burocratas das emissoras de TV digam que não existe mais jornalismo esportivo, só entretenimento, a gente se entretém lendo, vendo e fazendo jornalismo.
E entretém muita gente, porque ler também é entretenimento.
É por isso que Everaldo Marques faz tanto sucesso, na Globo, nestes primeiros dias de Olimpíadas.
Diverte com seus bordões e informa sobre qualquer modalidade esportiva. Um gênio!
Entretimento, a Cazé TV sempre vai fazer melhor do que a Globo. Nasceu para isso.
No domingo, Vitinho, comentarista de skate, explicava uma manobra, em que uma atleta destra tinha de levar o skate com o pé esquerdo. Casimiro Miguel entendeu, respeitou e respondeu:
“No skate, sou canhoto das duas pernas.”
Lamento informar a mim mesmo: eu ri.
Na TV aberta, a palavra entretenimento nada mais significa do que trocar o narrador e o comentarista do guarda-chuva editorial para o comercial, para deixá-lo em condição de ganhar uma grana ao dar falar uma frase sobre uma marca:
“Itaú!”
Noventa paus na conta!
“Brahma!”
Mais R$ 100 mil!
O narrador, às vezes, o comentarista, nunca o repórter.
Para quem narra, isso é entretimento puro!
Para um locutor ex-jornalista, então, que passou décadas dando informações precisas, às vezes exclusivas, e nunca ganhou tanto para falar por dez segundos, imagina só.
Entretenimento na veia!
Mas experimente dar uma informação errada durante a transmissão. Aí vão te cobrar pelo equívoco imenso. Porque, afinal de contas, você não é o Faustão.
O papel de qualquer um, em rede nacional, é dar informação certa. É o mínimo que se espera.
Por perceberem injustiças, funcionários já andaram pelos corredores pensando na chefia e cantando Bete Balanço, do Barão Vermelho: “Não ligue para essas caras tristes, fingindo que a gente não existe. Sentadas, são tão engraçadas, donas das suas salas.”
O que é entretenimento, esta palavra que não quer dizer nada?
Ninguém chamava de entretenimento, quando Silvio Luiz ia para a cabine e pedia para quem estivesse assistindo, e morasse em apartamentos dos arredores da Vila Belmiro ou Parque Antarctica, que acendesse e apagasse a luz, para medir a audiência.
As luzes piscavam e as pessoas iam para a janela.
Nesse tempo, chamavam apenas de “transmissão esportiva.”
Também se chama carisma.
Ninguém pensou que algum telespectador estava se entretendo, e se emocionando, ao ver Luciano do Valle narrar na Band a vitória de Emerson Fittipaldi nas 500 milhas de Indianápolis, de 1989.
Todo mundo se entretém, e se espanta, ao ver Everaldo Marques reproduzindo, palavra por palavra, a narração de Luciano da última volta de Émerson. Everaldo guarda cada segundo em sua memória há 35 anos.
É lindo! Surpreendente! Emocionante!
Se você quiser dizer que também é entretenimento, tá valendo.
Everaldo estava fazendo o que, além de se entreter, ao assistir ao Luciano?
As Olimpíadas de Paris nos emocionam, seduzem, informam, entretém.
Informação é o nosso esporte. Também é entretenimento.
E é a coisa mais moderna deste mundo moderno. Se você não souber a senha, não conseguirá ligar o celular nem usar o QR Code do aplicativo da TV. Não consegue saber nem que a Rayssa Leal já ganhou bronze e não vai saber com quem a seleção masculina de vôlei jogará nesta quarta-feira (31).
No tempo do Chacrinha, era diferente: “Quem não se comunica, se trumbica.”
Na Olimpíada de Paris, quem não tem informação não tem entretenimento.
Paris 2024
Um guia diário com o que rolou e vai rolar nos Jogos Olímpicos na França
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.