Mas além do ouro da nossa medalhista no solo em Paris, o que chamou atenção nas redes sociais nesta manhã foi uma cena curiosa: depois da sua apresentação, a ginasta de 25 anos pegou seus óculos para tentar enxergar sua pontuação.
O hábito, que já rendeu vários memes, levanta uma dúvida: como a campeã olímpica consegue (sem usar lentes de contato!) enxergar a trave, um aparelho com cinco metros de comprimento e dez centímetros de largura, mas não as suas notas?
Numa entrevista à revista Marie Claire, a atleta mencionou que tem um elevado grau de miopia em um olho (pelo menos 2,5) e astigmatismo no outro (mais de 2 graus).
Entenda mais abaixo o que são as duas condições e como elas impactam a visão de Rebeca.
Edvaldo Figueirôa, oftalmologista e gestor do setor de cirurgia refrativa do H.Olhos – Hospital de Olhos, referência em cuidados oftalmológicos, explica que as condições causam problemas visuais (ametropias) que dificultam a qualidade de visão principalmente para a distância.
A miopia é uma condição ocular bastante frequente que dificulta a visualização nítida de objetos distantes (como as notas que Rebeca tentou enxergar).
Ela é geralmente corrigida com óculos ou lentes de contato e segundo o NHS, o serviço de saúde britânico, costuma se manifestar em crianças entre 6 e 13 anos, mas também pode surgir em adultos.
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Já o astigmatismo é outra causa comum de visão borrada, assim como a miopia.
Ele ocorre quando o formato do olho se assemelha mais a uma bola de rugby (mais oval) do que a uma de futebol, o que faz com que a luz seja focada em vários pontos no olho.
Normalmente, a condição também é tratada com óculos ou lentes de contato.
“O astigmatismo pode confundir linhas paralelas gerando ‘sombras’ nos objetos perdendo nitidez e também tem como característica a fotofobia [diculdade em muita luminosidade]. A miopia dificulta a visualização de objetos a longa distância, quanto maior o grau mais dificuldade”, diz Figueirôa.
No caso de um atleta, dependendo do grau da deficiência, essas condições podem atrapalhar na execução dos exercícios e manobras. Mas se for um grau leve, dificultará a visão e a leitura de informações à distância.
— Edvaldo Figueirôa, oftalmologista e gestor do setor de cirurgia refrativa do H.Olhos – Hospital de Olhos.
Rebeca, porém, também já declarou que prefere não usar lentes de contato durante os treinamentos e as competições.
“Não gosto de usar as lentes, porque fico com medo de cair magnésio [o pó usado pelos ginastias] nos olhos e me atrapalhar. Não enxergo [a trave]. Vou no feeling”, disse à recordista ao sportv no programa “Ça Va Paris”.
Imagem de Rebeca Andrade, medalhista nas Olimpíadas de Tóquio 2021 e em Paris 2024. — Foto: Natacha Pisarenko/AP
E mesmo assim, Rebeca diz que quando entra no ginásio já se acostumou a realizar suas séries com a visão turva. Dessa forma, ela ressalta que consegue lidar melhor com o que descreve como um “medo inexplicável” diante dos aparelhos.
“Dá para errar, mas não seria por não enxergar. Mesma coisa com a trave, não enxergo a ponta, mas já sei, sinto no aparelho, então é tranquilo”, disse à Marie Claire.
Ainda de acordo com o NHS, a miopia é frequentemente hereditária e pode piorar até que o olho pare de crescer, por volta dos 20 anos de idade.
Seus principais sintomas e sinais de alerta incluem:
- Uma dificuldade maior em ler palavras à distância;
- Sentar-se muito perto da TV ou do computador, ou segurar o celular ou tablet muito próximo ao rosto
- Dores de cabeça constantes
- Esfregar os olhos com frequência
Já o astigmatismo pode causar:
- Visão embaçada
- Dores de cabeça
- Cansaço ocular (especialmente após longos períodos de concentração, como ao usar um computador)
O astigmatismo também normalmente ocorre junto com um quadro de miopia ou hipermetropia (dificuldade de enxergar de perto).
Além disso, quando é manifestado em um único olho pode causar ambliopia (olho preguiçoso), onde a visão não se desenvolve adequadamente.
Em ambos os casos, o tratamento é feito através de correção ótica (óculos e ou lentes de contato) ou de forma definita através de uma cirurgia refrativa, que corrige os vícios de refração.
Ela é indicada para pessoas com mais de 20 anos que desejam não ter dependência dos óculos, que não tenham doenças oculares ou apresentem contraindicações nos exames pré-operatórios.
Segundo o H. Olhos, o procedimento tem duração média de 10 minutos para ambos os olhos, podendo variar de acordo com a técnica escolhida.
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