Foi tendo a “mudança” como tema que o “Saia Justa”, do GNT, estreou nesta quarta-feira (7) a sua 23ª temporada. Apesar do assunto bastante genérico –e elástico–, a escolha não foi à toa: a atração, um dos maiores sucessos de repercussão da história da TV paga brasileira, reestreou com importantes alterações.
Para começar, os episódios desta vez são gravados. E houve a tradicional mudança de elenco. Além de Bela Gil, que já estava na atração, temos agora Rita Batista, egressa do global “É de Casa”, Tati Machado, conhecida pelo “Mais Você” e pelo “Encontro”, e Eliana, a apresentadora do SBT que migrou neste ano para o grupo Globo. E foi esta última quem assumiu o comando, na estreia em sua nova casa.
Estamos em 2024, então é impossível não observar as coisas por outro prisma: temos ali duas mulheres negras, uma branca longe da magreza em geral exigida pela TV e uma loira que ainda hoje é percebida no imaginário nacional como a ex-apresentadora de programa infantil. Quadro bem diferente do da temporada inicial, que trazia as brancas e magras Mônica Waldvogel, Rita Lee, Marisa Orth e Fernanda Young.
Foi uma aposta arriscada do GNT. Não por uma eventual má aceitação de um elenco que exalta a representatividade –o “Saia” sempre dialogou com uma plateia progressista. Mas principalmente porque, apesar de as quatro integrantes serem muito queridas no meio em que surgiram, um público mais amplo talvez não veja nenhuma delas exatamente como um poço de carisma. E eis um elemento fundamental para que um programa como esse decole –além, é claro, do equilíbrio entre gravidade e leveza na discussão dos temas.
Na estreia, o aspecto leve preponderou. A atração começou com o quarteto em um breve papo no camarim, degustando um espumante, em clima de festa. Em seguida, já no tradicional sofá em meia-lua, cada uma falou sobre situações pelas quais passaram envolvendo mudanças.
Eliana começou falando, é claro, sobre sua tão badalada mudança de emissora, segundo ela uma decisão “planejada e consciente”. Desembaraçada, demonstrou simpatia e segurança, muito embora talvez ainda se mostre talvez “fofa” demais para o papel de mediadora –e problematizadora, nos casos em que a conversa não render muito bem.
“Pelo amor de Deus: eu não sou certinha. Já vou avisando”, a loira fez questão de explicitar já no primeiro bloco, em que falou mais do que as outras e protagonizou o momento mais sério de toda a atração, ao mencionar que uma das maiores mudanças em sua vida se deu no período em que passou cinco meses de cama quando grávida de Manuela, hoje com 7 anos de idade.
Houve um certo aspecto de entrevista nesse primeiro bloco, em grande parte por uma curiosidade genuína das outras três participantes do programa sobre a apresentadora, mas muito provavelmente também como decisão do canal de explorar sua mais nova aquisição.
Nos blocos seguintes, em que foram discutidos a amizade feminina e os momentos mais marcantes dos Jogos Olímpicos de Paris, Eliana reduziu sua participação como depoente. Sua gargalhada histriônica, que ela tanto mostrava na emissora anterior, quase não apareceu, a não ser quando as participantes assistiram ao hilário vídeo viralizado em que um atleta francês do salto com vara se atrapalhou quando sua própria genitália derrubou o sarrafo durante a prova. A Eliana global, ao que parece, será menos infantilizada e mais natural.
Já velha conhecida dos espectadores do programa, Bela Gil soube ser elegante o suficiente para deixar as novatas se pronunciarem mais do que ela sobre os demais temas da noite. Tati Machado e Rita Batista tiveram falas interessantes, desenvoltas, ressaltando vários aspectos sobre a situação feminina. Não tiveram ainda, no entanto, a oportunidade de debaterem temas que fujam de experiências pessoais ou dos assuntos mais cotidianos (ou mesmo fúteis) dos programas pelos quais são conhecidas na Globo.
O programa seguiu bem –às vezes descontraído até demais, mas no geral dando a impressão de que as novas saias fizeram o dever de casa. É difícil saber como o elenco se sairá quando os ares de novidade ficarem desgastadas ou diante de temas verdadeiramente polêmicos, mas, ao menos para uma estreia, mostrou-se satisfatório, com o quarteto entrosado e à vontade diante do desafio.