O governo brasileiro teve que fazer alguns ajustes de posição diante da teimosia de Nicolás Maduro. A principal sinalização foi empurrar com a barriga um telefonema que o ditador pediu a Lula na semana passada. A ligação só deve ocorrer se também tiver a participação dos presidentes da Colômbia e do México. Depois, o trio ainda conversaria com o opositor Edmundo González.
O Brasil incorporou em seus cálculos a necessidade de dizer ao mundo que o esforço para solucionar a crise não será pautado por predileções particulares. Os generosos comentários de Lula sobre a situação da Venezuela levaram o governo a assumir uma dose mais alta de realismo.
A postura oficial dos brasileiros mudou pouco desde a eleição de 28 de julho. O país é o principal ator internacional a sustentar a cobrança das atas de votação como forma de questionar a vitória declarada por Maduro. Ainda assim, evita uma ruptura e consegue preservar canais com os dois lados da contenda.
O que se torna cada vez mais claro é o ceticismo dominante, tanto na diplomacia como em setores políticos do governo, em relação à conduta de Maduro. A manutenção das atas em segredo e o aumento da repressão a adversários deixam poucas opções sobre a mesa.
Maduro dobra a aposta no endurecimento, numa demonstração de que não vai recuar. O Brasil tem razão em não carimbar a farsa do ditador nem aceitar a violência, mantendo algum diálogo com o venezuelano. Mas será necessário ir até o fim, mudando o perfil da relação e reduzindo de forma enfática a boa vontade com o regime do país vizinho.
Principal operador de Lula nessa área, Celso Amorim deu a medida das incertezas. O ex-chanceler afirmou à GloboNews que “é lamentável que as atas não tenham aparecido”, disse temer um conflito violento no país e falou, de maneira mais do que ambígua, num “esforço de mediação” que poderia levar à aceitação de uma anistia que proteja os perdedores. O grande problema é definir quem serão eles.
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