O prefeito Ricardo Nunes (MDB) virou alvo principal dos adversários no primeiro debate entre pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo, nesta quinta-feira (8), na Band.
O evento foi marcado por troca de acusações e contou ainda com participação de Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Pablo Marçal (PRTB) e Tabata Amaral (PSB).
Nunes questionado sobre sua gestão e empilhou números e feitos para defender sua reeleição. Marçal demonstrou agressividade, com ataques pessoais, e se descontrolou em diferentes momentos.
A nacionalização eleitoral ficou em segundo plano no debate, com poucas referências ao presidente Lula (PT) e ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Boulos e Datena ensaiaram dobradinhas, mas o apresentador também alfinetou o deputado do PSOL, repetindo Nunes ao mencionar a atuação do parlamentar no caso da “rachadinha” do deputado André Janones (Avante-MG) e questionar o compromisso dele com a democracia pelo tom brando ao falar das suspeitas de fraude eleitoral na Venezuela.
Boulos, que também foi associado ao grupo terrorista Hamas por causa do histórico de apoio à Palestina, retrucou o prefeito dizendo que ele é suspeito de receber “rachadinha própria”, em alusão a cheques que teriam sido repassados a ele em esquema envolvendo creches que é investigado pela Polícia Federal.
“Fico um pouco indignado. A gente espera um debate de alto nível e vocês estão vendo aí, é só ataque. Não precisa manchar a honra das pessoas. Como você não tem proposta, fica querendo criar história”, respondeu o prefeito a Boulos.
O deputado disse que, com Nunes prefeito, “São Paulo andou para trás”, citando filas de exames na rede pública, falta de transparência, mau uso de dinheiro público e obras sem licitação e sem planejamento.
A tabelinha entre Boulos e Datena foi instável, sendo substituída por ataques do apresentador ao rival na parte final do debate. Para fugir da tabelinha com o deputado do PSOL, Datena disse ser contra a polarização e afirmou que Nunes é marionete de Bolsonaro, enquanto Boulos é de Lula. “Eu não votaria em nenhum dos dois.”
Boulos, então, afirmou ter orgulho do apoio de Lula. Já Nunes mencionou Bolsonaro apenas uma vez, para exaltar a parceria com o governo federal que comprou o Campo de Marte e, com isso, extinguiu a dívida de São Paulo com a União.
O primeiro e o terceiro blocos, com confrontos diretos, foram marcados menos por discussão de propostas e mais por ataques. O debate teve uma série de pedidos por direito de resposta, evidenciando o clima belicoso.
Alvo de cobranças sobre suspeitas que envolvem seu nome, como a investigação da máfia das creches, Nunes disse que o espectador queria um debate de alto nível. “Essa coisa de ficar atacando e xingando não leva a lugar nenhum”, reagiu.
Mas o prefeito também mirou Boulos, insinuando que ele não trabalhou, citando a ligação dele com protestos violentos e apontando alinhamento com o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, o que o membro do PSOL contestou.
Marçal, ex-coach famoso em redes sociais, distribuiu ofensas aos rivais. Após ser acuado por Tabata com perguntas sobre a cidade —ela o questionou sobre a Operação Água Branca e ele admitiu desconhecer o assunto— , chamou a deputada de “adolescente” e “sabichona” e disse que ela parecia “uma jornalistazinha militante”. Falou também que ela tem Lula e Dilma Rousseff (PT) como heróis.
Num auditório anexo, auxiliares de Nunes e Boulos reagiram com vaias à postura de Marçal contra Tabata, aos gritos de machista, babaca e misógino.
O pré-candidato do PRTB afirmou que “esses politiqueiros estão aqui para fazer graça”, buscando se apresentar como antissistema e alguém que poderá representar o eleitor comum com suas promessas para que as pessoas prosperem e as empresas se desenvolvam. Disse ainda que a seu lado só havia “candidatos de esquerda e de centro-esquerda”, acenando a eleitores de Bolsonaro.
Boulos afirmou que, no palco, havia dois bolsonaristas, um rejeitado (Marçal) e um envergonhado (Nunes). A relação entre Bolsonaro e o prefeito é usada na estratégia do deputado para desgastar o emedebista por causa da alta rejeição ao ex-presidente na cidade.
Assim como Nunes citou Bolsonaro apenas lateralmente, o postulante do PSOL tampouco se escorou na aliança com Lula, o que tirou o tom de nacionalização da disputa, ao menos neste primeiro embate presencial.
Foi Marçal quem primeiro mencionou o petista, dizendo que Tabata, cujo partido é o do vice-presidente Geraldo Alckmin e integra a base do governo, “vive babando ovo para ele [Lula]”.
A deputada foi evitada como alvo de perguntas dos demais —ela não foi escolhida nenhuma vez, enquanto Nunes foi quatro vezes, o máximo possível.
Datena, que está licenciado da Band e ao chegar à emissora disse nunca ter assistido a um debate, interagiu amistosamente com Boulos antes do início. Ele usou a carreira na TV para se valorizar e tentar encobrir sua inexperiência em gestão pública. “Há 26 anos eu sinto a sua dor diariamente e estou com você diariamente na sua casa”, disse.
O apresentador também fez repetidas menções ao ex-prefeito Bruno Covas (PSDB), afirmando que Nunes não seguiu projetos do tucano, que morreu de câncer em 2021. “O Ricardo arrasou essa cidade, ele destruiu essa cidade. São Paulo está destruída”, disse.
No segundo bloco, Nunes revidou a ofensiva de Datena, dizendo que ele foi condenado e que faz “joguinho com Boulos”.
O prefeito também ensaiou uma dobradinha com Marçal para reforçar as críticas a Boulos, mas não direcionou perguntas para o deputado do PSOL, preferindo indagar Marçal e Datena. Nunes entrou em atrito com o tucano, a quem se referia como “apresentador” em tom pejorativo, várias vezes.
Datena foi genérico e chegou a gaguejar ao falar de propostas, expondo a fragilidade de uma candidatura construída às pressas.
No segundo bloco, em que os pré-candidatos responderam a jornalistas, os ataques continuaram, mas de forma indireta.
Boulos, por exemplo, afirmou que Nunes era “incompetente” e que não tem problema em reconhecer quando o prefeito acerta, mas “pena que acerta tão pouco”. Ainda em clima de dobradinha com o deputado do PSOL, Datena emendou: “Não adianta tentar elogiar o Ricardo Nunes que ele não merece elogio”.
O apresentador ainda relacionou Nunes ao PCC, o que deu ao prefeito um direito de resposta. Nunes afirmou que Datena já foi condenado por imputar crimes a pessoas inocentes. O prefeito ressaltou, ao falar de segurança pública, sua parceria com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que o apoia.
Tabata, por sua vez, também mencionou o governador e Lula. “Sou a única candidata que consegue trabalhar com governador Tarcisio e presidente Lula”, disse.
Ela também criticou Marçal, de quem foi alvo no bloco anterior. “São Paulo não está precisando de carro voador […]. É o 0071 goiano que está aqui em São Paulo, que dá solução que não existe.”
O terceiro bloco foi marcado pelo embate entre Tabata e Nunes. A deputada o questionou a respeito do boletim de ocorrência que a mulher do prefeito registrou em 2011, que ele disse ser forjado, o que foi desmentido pela Polícia Civil.
“São Paulo não merece um prefeito que mente e agressor de mulher”, disse a deputada.
“Não esperava de você um nível desse”, disse Nunes, que admitiu ter tido um desentendimento com a esposa, mas não agressão. “Nunca levantei um dedo para minha mulher.”
Da plateia, a esposa do prefeito, Regina Nunes, demonstrou indignação com a pergunta de Tabata.
Marçal incorreu em bravata depois de ter dito que dois de seus concorrentes são “cheiradores de cocaína” e que apresentaria provas disso durante o debate. Ele fez insinuações dirigidas a Boulos, chamando-o de “comedor de açúcar” e dizendo que ele “deve ter ido a todas as biqueiras” da cidade.
“Você ainda vai voltar para cadeia por causa das suas mentiras. Isso aqui não é brincadeira de internet […]. Estamos diante de um psicopata, ele mente e acredita na mentira. Você deveria buscar tratamento”, respondeu Boulos a Marçal.
O ex-coach e Datena foram alvos dos demais, que apontaram falta de conhecimento sobre a cidade e falta de propostas concretas e factíveis.
“É um bom apresentador, reconheço, agora da cidade não tem a mínima noção do que acontece”, afirmou Nunes sobre Datena.
“Para ser prefeito tem que estudar”, disse Tabata a Marçal.
O debate foi realizado depois do prazo para as convenções partidárias, encerrado na segunda (5), mas antes do limite para a oficialização das candidaturas, que vai até dia 15. Dos convidados para o programa, só Boulos e Marçal registraram suas campanhas na Justiça Eleitoral.
Pesquisa Datafolha publicada também nesta quinta mostra a manutenção do empate entre Nunes e Boulos na primeira colocação, com 23% e 22%, respectivamente, seguidos por Datena e Marçal, ambos com 14%, e Tabata, com 7%.
Marina Helena (Novo), que marcou 4%, não foi convidada para o debate e teve um pedido judicial para participar negado por inexistir obrigação legal de que ela seja chamada. Ela organizou do lado de fora da emissora um protesto com apoiadores contra a decisão. Dentro do estúdio, Marçal se solidarizou com Marina, dizendo que ela foi “barrada” e sofreu injustiça.