As Olimpíadas de Paris não têm regras obrigatórias relacionadas à Covid. Cabe a equipe do atleta decidir se ele tem condições ou não de competir.
Karina Hatano, médica do esporte do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que o exercício físico, em geral, fortalece o nosso sistema imunológico. Contudo, quando estamos doentes, praticar um exercício, principalmente intenso, pode trazer um risco para a nossa saúde, piorar nossa imunidade, além de aumentar o risco de miocardite (uma inflamação do coração).
Se adicionarmos o fator Covid-19, é ainda pior.
“Com Covid o risco é maior porque a doença tem algumas sequelas maiores do que só o coração. Fica um risco aumentado. Não é só algo relacionado à infecção viral, gripe, todo o organismo tem um risco maior”, alerta.
Noah Lyles é tratado pela equipe médica após a final dos 200 metros — Foto: Petr David Josek/AP
Muitos especialistas usam a “regra do pescoço” para indicar ou não uma pausa nas atividades. Se os sintomas estão acima do pescoço (coriza, nariz entupido, espirros, dor de garganta leve), dá para continuar com os exercícios leves. Por outro lado, se os sintomas estão abaixo do pescoço (náusea, tosse, dor no peito, falta de ar, febre, dor muscular intensa, diarreia) é hora de parar.
E onde entram a gripe e a Covid-19? Nos sintomas abaixo do pescoço. Além disso, são doenças contagiosas, que se espalham principalmente por pequenas gotículas. Ou seja, ao sair de casa para se exercitar, você pode acabar contaminando outras pessoas, principalmente se o ambiente for fechado.
“Além do risco individual envolvido na prática de atividade física com uma doença como a Covid-19, existe o risco de exposição das pessoas que estão ao nosso redor ao vírus. Se a pessoa está com uma doença contagiosa, o ideal infelizmente é não participar da competição”, diz a pneumologista Maria Cecília Maiorano.
A Covid-19 é uma doença que traz sérios problemas respiratórios e cardiovasculares. Exercitar-se durante ou logo após a infecção pode agravar os sintomas e aumentar o risco de complicações, como miocardite, uma inflamação do coração. Os especialistas recomendam um retorno gradual à atividade física, normalmente após pelo menos duas semanas sem sintomas, e sempre sob orientação médica.
“Na Covid, pulmão e coração podem ser acometidos e eles são órgãos fundamentais para a prática da atividade física. Temos que lembrar também que a Covid pode levar a uma miocardite ou a uma trombose. Quem faz atividade física com Covid está sujeito a ter um evento súbito como infarto e embolia pulmonar”, completa Maiorano, que é membro da Sociedade Brasileira de Pneumologia (SBP) e da Sociedade Paulista de Pneumologia (SPP).
A gripe geralmente causa febre, fadiga intensa e dores no corpo. Exercitar-se enquanto está gripado pode sobrecarregar ainda mais o sistema imunológico e levar a complicações como pneumonia. O ideal é evitar exercícios enquanto estiver com febre e até alguns dias depois que ela desaparecer, dando tempo ao corpo para se recuperar totalmente.
Noah Lyles recebe ajuda para sair da pista após a final dos 200 metros — Foto: Matthias Schrader/AP
Cada pessoa é única, não existe um “tempo certo”. A melhor abordagem é ouvir o corpo, consultar um médico quando necessário, e retornar às atividades físicas de forma gradual e segura. É importante deixar o corpo se recuperar completamente da doença antes do retorno. À medida que os sintomas diminuem, comece gradualmente a introduzir a atividade física na sua rotina.
Igor Maia Marino, infectologista da Clínica Sartor, reforça que é importante “ficar de molho” ou em repouso para poupar o esforço energético que deve estar voltado para o combate à infecção.
“O tempo desse repouso vai estar diretamente relacionado com a presença de sintomas. Na Covid, o que se espera é que em um período de até sete dias haja uma melhora dos sintomas e o indivíduo possa retornar às suas atividades normais, caso não tenha nenhum comprometimento específico de algum órgão”, orienta o infectologista.
Norte-americano Noah Lyles leva o outro nos 100 metros rasos