Chegando ao MP, José Vicente Haro disse à imprensa que o órgão do governo, alinhado a Maduro, recusou um documento legal entregue na manhã desta quarta em que González pede para o MP “não criminalizar” a política e evitar uma “perseguição”.
O documento que Haro levou ao Ministério Público e que motivou a reunião com o procurador-feral justifica as ausências de seu cliente nas três convocações emitidas pelo órgão, as quais resultaram no pedido de prisão. O advogado afirmou também que na reunião ele “atenderá às preocupações que Saab julgar pertinentes”.
“Em termos gerais, [o documento] contém as razões do ponto de vista constitucional, jurídico e legal, pelas quais ele não compareceu ao Ministério Público, à representação que foi indicada”, afirmou Haro mais cedo. “Há uma situação de indefensibilidade, de impossibilidade de garantir seu direito à defesa, ao devido processo.”
Edmundo González está sendo investigado pelo MP pela publicação de um site com atas eleitorais que a oposição venezuelana usa de base para afirmar que ele venceu a eleição presidencial sobre o presidente Nicolás Maduro.
Maduro trava uma batalha contra a oposição e a comunidade internacional, que questionam o resultado da eleição de 28 de julho, porque não houve a divulgação das atas eleitorais para comprovar o resultado divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral, e referendado pelo Tribunal Supremo de Justiça, que decretou sua reeleição. Tanto a autoridade eleitoral quanto a Corte são alinhadas ao governo.
Edmundo González em comício, em Caracas, em 25 de julho de 2024. — Foto: Leonardo Fernandez Viloria/Reuters
O advogado de Gonzalez disse também que quando compareceu ao escritório do procurador-geral para apresentar a carta do opositor, ele esperou quase duas horas, foi informado de que seu documento não poderia ser recebido porque não tinha a autorização correta e, em seguida, foi informado de que o sistema estava fora do ar. Haro disse que viu outros documentos sendo aceitos.
Ele então foi solicitado a retornar à tarde, disse Haro, e não recebeu de volta a cópia do depoimento que havia tentado entregar.
“É por causa desses tipos de situações que Edmundo Gonzalez Urrutia não cumpriu com as intimações que lhe foram dadas”, disse Haro. “Estamos tentando exercer nossa defesa, mas agora vocês viram as dificuldades que tivemos.”
A Justiça da Venezuela acatou um pedido do Ministério Público para emitir um mandado de prisão contra o opositor Edmundo González, que concorreu à eleição presidencial de julho.
Edmundo González é investigado por crimes como usurpação de funções da autoridade eleitoral, falsificação de documentos oficiais, incitação de atividades ilegais, sabotagem de sistemas e associação criminosa. O mandado de prisão formaliza a acusação contra González por esses delitos. (Veja na foto abaixo)
A prisão de González não ocorreu até a última atualização desta reportagem.
A lei venezuelana não permite que pessoas com mais de 70 anos cumpram penas em prisões, exigindo em vez disso prisão domiciliar. Gonzalez completou 75 anos na semana passada.
Segundo o MP, o pedido de prisão foi apresentado após González ignorar três intimações para prestar depoimento. O órgão é aliado do presidente Nicolás Maduro e controlado por chavistas.
Ordem de prisão contra candidato opositor Edmundo González, expedida em 2 de setembro de 2024. — Foto: Reprodução/Instagram do Ministério Público
O procurador-geral Tarek Saab afirmou que as intimações tinham como objetivo colher o depoimento de González sobre a publicação de atas impressas das urnas eleitorais em um site.
O mandado de prisão diz que González deve ser colocado à disposição do MP imediatamente após sua detenção.
“Maduro perdeu completamente o contato com a realidade. O mandado de prisão emitido pelo regime para ameaçar o presidente eleito Edmundo González ultrapassa uma nova linha que apenas fortalece a determinação do nosso movimento. Os venezuelanos e as democracias ao redor do mundo estão mais unidos do que nunca em nossa busca pela liberdade”, afirmou Corina Machado.
Saab afirma que os documentos apresentados pela oposição são falsos. Entretanto, até agora, as autoridades venezuelanas não tornaram públicas as atas eleitorais que seriam verdadeiras, mesmo diante do pedido de países como Brasil e Estados Unidos. A ONU apontou segurança nas atas divulgadas pela oposição.
A Argentina rejeitou o mandado de prisão emitido pela Justiça contra Edmundo González, que chamou de “vencedor das eleições presidenciais” e emitiu um “alerta à comunidade internacional sobre uma onda de radicalização do regime que pretende criminalizar as forças democráticas venezuelanas”.
Venezuela determina prisão de candidato da oposição, Edmundo González
Com o temor de prisão, González faltou às convocações do MP, assim como o fez quando o Tribunal Supremo de Justiça chamou todos os candidatos da eleição para assinar um documento reconhecendo o resultado divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
O CNE deu a vitória a Maduro sem apresentar as atas eleitorais. Tanto a Suprema Corte quanto o Conselho Eleitoral são alinhados ao governo Maduro.
O opositor já havia sido advertido pelo Ministério Público sobre a possibilidade de um mandado de prisão contra ele caso não comparecesse ao depoimento. A lei venezuelana prevê detenção quando há três faltas consecutivas em intimações para depoimento.
A comunidade internacional vem denunciando repressão contra opositores na Venezuela, além de afirmar que houve falta de transparência nas eleições presidenciais.
“Um cidadão que respeita a democracia, a República, a Constituição e as leis jamais pode se recusar a uma convocação judicial”, disse.
Pedido de prisão de Edmundo González — Foto: Reprodução
María Corina Machado na mira do MP
O Conselho Nacional Eleitoral afirmou que González ficou em 2º lugar nas eleições presidenciais, sendo derrotado por Nicolás Maduro. Entretanto, a oposição garante que González venceu por ampla vantagem com base nos dados das atas eleitorais.
Após o resultado das eleições, milhares de pessoas foram às ruas para protestar contra o resultado.
Em agosto, o procurador-geral Tarek Saab acusou a opositora María Corina Machado de ser responsável por arquitetar protestos que terminaram em mais de 20 mortes no país após as eleições presidenciais.
O procurador-geral afirmou que abriu uma investigação contra Corina Machado e outras pessoas da oposição, classificados por ele como membros da “extrema direita”.
Segundo Saab, as manifestações que aconteceram após o dia 28 de julho foram ações planejadas. Milhares de pessoas foram às ruas protestar contra Nicolás Maduro, que foi proclamado reeleito para um terceiro mandato presidencial pelas autoridades eleitorais.
Para o procurador-geral da Venezuela, o país vive uma “guerra híbrida” com uma tentativa de golpe de Estado. Saab afirmou que existe uma escalada de pressões patrocinada pelos Estados Unidos desde 2017 para derrubar Maduro do poder.
“Hoje, os venezuelanos a responsabilizam [María Corina Machado] por todas essas mortes, que foram assassinados em situações que não podem ser classificadas como protestos.”
Ao ser questionado se Corina Machado poderia ser acusada por homicídio, Saab afirmou que “a qualquer momento, qualquer um deles poderá ser responsabilizado como autor intelectual de todos esses acontecimentos”.