Uma operação cumpriu 14 mandados de busca e apreensão nesta terça-feira (15). Além de afastados, os policiais tiveram as armas recolhidas e também foi determinada a suspensão do porte de arma e o uso de tornozeleiras eletrônicas.
Homem morre após troca de tiros com a Rotam na região sul de Palmas — Foto: Kaliton Mota/TV Anhanguera
A Polícia Militar afirmou que tomou conhecimento de que a Polícia Civil esteve no Quartel do Batalhão de Polícia de Choque (BPCHOQUE) para cumprimento de mandados de busca e apreensão em armários de cinco policiais que estão sendo investigados pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoas (DHPP). Afirmou que colaborou com os trabalhos e lamentou o pedido de busca e apreensão nas dependências do Quartel. (veja nota completa abaixo)
A prefeitura de Palmas informou em nota que está colaborando com a Polícia Civil no caso do suposto envolvimento de um agente da Guarda Metropolitana, mas que não teve acesso à íntegra dos autos. (veja a nota abaixo)
O advogado Paulo Roberto, que se identificou como defensor dos cinco policiais militares, afirmou que ainda não teve acesso aos autos “tão logo eu tenha acesso a todos os elementos do processo, informo quais serão as atitudes que tomaremos”.
Já advogado João Fernando, que se identificou como advogado do guarda metropolitano, afirmou que ainda não teve acesso integral ao inquérito e que só se manifestará após o acesso integral ao conteúdo.
As investigações apontam que uma testemunha teria escutado os primeiros disparos e chegou a ir até a porta ver o que estava acontecendo, momento em que foi abordada por um policial militar. Ele teria ordenado que ela entrasse para o interior de um estabelecimento próximo a oficina.
A testemunha informou em depoimento que continuou acompanhando a situação pela fresta do portão do estabelecimento, até o momento em que ouviu a segunda onda de disparos e fechou a portão. Conforme as investigações, na primeira ‘onda’ de tiros a testemunha teria escutado três disparos e na segunda mais três.
Em depoimento a companheira de Jaimeson teria informado que antes de ir para oficina, ele tinha a deixado na escola onde trabalha e não estava portando arma de fogo. Como a escola fica próxima da oficina, as investigações apontam que seria impossível a vítima ter acesso a uma arma de fogo em tão pouco tempo.
A representação da polícia mostra que, com base no temporizador da câmera de segurança, os primeiros disparos foram feitos por volta dos 10:56:21, enquanto que o segundo foi aos 10:57:07. A diferença de uma para outra foi de aproximadamente 50 segundos.
Imagem de câmera de segurança mostra movimentação de PMs em oficina no Aureny III — Foto: Reprodução
Imagens de uma câmera de segurança mostram que um dos militares fica do lado de fora da oficina vigiando para que ninguém se aproximasse. Após os primeiros tiros, um policial sai da oficina em direção à viatura estacionada do outro lado da avenida e não volta mais. No local permanecem três PMs.
É na segunda etapa dos disparos que os policiais passam a realizar movimentações suspeitas indicando que não houve um confronto, segundo as investigações. No momento dos tiros, um outro militar aparece correndo em direção ao lado contrário da avenida.
“Não me parece razoável imaginar que em meio a um confronto, dois policiais abandonem o palco do combate (um deles, no momento da segunda leva de disparos, chega a estar de costas para oficina). Destoa de qualquer regra tática operacional esse dispersar de atiradores durante um embate bélico”, diz a representação da polícia.
Os trabalhos da balística forense ainda devem informar se a segunda onda de tiros foi da uma de algum policial militar ou não.
Na época, os policiais militares informaram que a vítima teria tentado acionar o gatilho da arma após cair no chão e que quando chamaram os bombeiros Jaimeson ainda estava vivo. Mas nas imagens das câmeras os PMs chegam a sair da oficina e ficam de costas para o estabelecimento.
“Se o alvo da abordagem seguia vivo até o acionamento do socorro, e permanecia com animus necandi [intenção de matar] em relação aos policiais, como explicar esse ato de dar as costas para uma ameaça ainda em curso”, apontou as investigações.
As imagens também mostram o momento em que um dos policiais chama o inspetor da Guarda Metropolitana. Ele é suspeito de ajudar os militares a vigiar Jaimeson por meio de um sistema de monitoramento de trânsito durante nove dias. O programa permite mapear o trajeto de veículos a partir de imagens de câmeras e radares, por meio de filtros com informações de placas, modelo, cor e outros detalhes de moto ou carro.
Placa da moto de Jaimeson Alves da Rocha era vigiada por câmeras de trânsito, antes dele ser executado — Foto: Reprodução
Jaimeson Alves da Rocha morreu durante uma abordagem da Rotam no dia 18 de junho de 2024. No dia da ocorrência, a polícia afirmou que ele tinha um mandado de prisão em aberto e fugiu ao ver a viatura. Em seguida, os militares entraram no estabelecimento para fazer a abordagem.
Os depoimentos e imagens de câmeras de segurança revelaram que Jaimeson chegou à oficina e entregou a moto para ser consertada por um funcionário do local. A Rotam só teria chegado à oficina minutos depois. Uma das testemunhas chegou a dizer para a Polícia Civil que antes de ser retirada da oficina viu Jaimeson rendido e com as mãos para cima.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), o revólver que foi atribuído a Jaimeson foi periciado pelo Laboratório de Genética da Polícia Civil do Tocantins que constatou que o contato dele com a arma se deu de maneira forçada e quando já estava sem vida. No gatilho, foram encontrados DNA da vítima e de mais duas pessoas, reforçando a tese de que a arma foi manuseada por outra pessoa e, portanto, plantada no local do crime.
Jaimeson tinha extensa ficha criminal, mas a suspeita da Polícia Civil é de que ele foi morto como uma forma de vingança. Isso porque em dezembro de 2023 ele teve um desentendimento e trocou socos com policiais durante outra abordagem.
PMs e guarda metropolitano são suspeitos de forjar tiroteio e matar homem em Palmas
O que diz a Polícia Militar e Prefeitura de Palmas?
Polícia Militar do Tocantins tomou conhecimento de que na manhã desta terça-feira, a Polícia Civil esteve no Quartel do Batalhão de Polícia de Choque (BPCHOQUE) para cumprimento de mandados de busca e apreensões em armários de cinco policiais que estão sendo investigados pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoas (DHPP), por terem, segundo investigações consignadas em Inquérito Policial, praticado homicídio contra um indivíduo, na região Sul da capital Palmas, em junho deste ano de 2024, durante um cumprimento de mandado de prisão por crimes de tráfico, roubo, porte ilegal de armas e associação ao tráfico.
A PMTO colaborou com os trabalhos do cumprimento de mandados de buscas e apreensões, por meio da Corregedoria, e acompanhou o cumprimento da ordem judicial, com um oficial presente em todos os locais que foram alvos da operação.
A Polícia Militar lamenta o pedido do Delegado que preside o Inquérito da busca e apreensão nas dependências do Quartel, haja vista que as armas e os depoimentos dos policiais foram colhidos no ato da apresentação da ocorrência na Delegacia de Polícia (Depol).
Na oportunidade, a Polícia Militar do Tocantins ratifica seu compromisso com a legalidade e reforça o seu compromisso com a lei, a ordem e a ética, destacando ainda que repudia ilações ou suposições que envolvem o caso veiculadas sem a devida comprovação e que irá colaborar no que for necessário durante as investigações.
Nota da Prefeitura de Palmas
A Prefeitura de Palmas, por meio da Secretaria de Segurança e Mobilidade Urbana (SESMU), informa que desde que teve conhecimento da investigação está colaborando com a Polícia Civil no caso do suposto envolvimento de um agente da Guarda Metropolitana de Palmas que culminou na morte de uma pessoa no bairro Jardim Aureny III, em junho deste ano. Contudo, a SESMU não teve acesso à íntegra dos autos, mas, sendo confirmada a participação do agente, a pasta tomará todas as medidas cabíveis para apurar possíveis desvios de conduta e aplicar as sanções dentro do que determina a legislação. Cumpre ressaltar que a gestão permanece à inteira disposição das autoridades policiais para quaisquer esclarecimentos ou envio de informações.