Entre os múltiplos sinais de alarme enviados por Donald Trump caso retorne ao comando dos EUA, um deles é particularmente assustador: a nomeação do ativista anti-vacinas Robert Kennedy Jr. como supervisor das políticas de saúde. Ex-candidato independente à Presidência e propagador de teorias da conspiração, ele tinha uma média de 10 pontos nas pesquisas, mas desistiu da disputa eleitoral para apoiar o republicano.
Em troca, Trump indicou que lhe daria “um grande papel no governo” e se disse aberto às suas ideias mais controversas, como a remoção do flúor da água potável e a proibição de certas vacinas.
“Ele é um cara talentoso e tem opiniões fortes”, declarou o ex-presidente em entrevista por telefone, neste domingo, à rede NBC, sobre o sobrinho do ex-presidente John Kennedy e filho mais velho de seu irmão Robert.
Conhecido pelas iniciais RFK, Kennedy Jr. aproveitou o aval do candidato republicano e anunciou, pelo X, que no primeiro dia no governo proibiria o flúor na água potável, sob alegação de que é um resíduo industrial que provoca câncer, entre outras doenças. A medida reverteria uma política de décadas, consagrada pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) como uma das conquistas para a melhoria da saúde pública.
Trump daria a ele o cargo de czar e supervisor de agências importantes na formulação das políticas de saúde dos americanos, como, por exemplo, CDC e FDA. Kennedy Jr. tornou-se conhecido por divulgar estudos que vincularam a vacinação de crianças ao autismo, amplamente rejeitados e desmentidos por organizações científicas. Dados da Organização Mundial da Saúde indicam que, nos últimos 50 anos, a imunização em massa salvou pelo menos 154 milhões de pessoas.
Com o país polarizado sob o governo Trump, durante a pandemia de Covid-19, RFK encontrou terreno para ecoar suas teses infundadas e comparou os bloqueios e isolamentos à Alemanha nazista. “Mesmo na Alemanha de Hitler, era possível cruzar os Alpes até a Suíça.”
O clã Kennedy o trata como um pária político e rejeitou publicamente sua candidatura, mas o candidato republicano reafirmou na semana passada que confia em Kennedy Jr. e anunciou a intenção de tê-lo na área da saúde.
“Eu disse para ele focar na saúde, fazer o que quiser. Vou deixá-lo enlouquecer com a saúde, vou deixá-lo enlouquecer com a comida, vou deixá-lo enlouquecer com os remédios.” Com Trump no poder, Kennedy Jr. ganharia o emprego de seus sonhos — o controle de uma equivocada política de saúde.