Mais de 30 anos após fazer “Vale Tudo” (Globo), a atriz Cristina Prochaska diz que fãs ainda a abordam na rua para falar sobre Laís, personagem interpretada por ela na trama que vivia um relacionamento amoroso com outra mulher, Cecília (Lala Deheinzelin).
“As pessoas me param aonde quer que eu vá para me dizer assim: ‘Queria que você soubesse como me ajudou com a Laís.’ Ouço isso de uma mãe que passou a entender o filho [homossexual], ouço de uma mulher [lésbica] que conseguiu contar para os pais.”
Por opção, Cristina Prochaska se afastou da TV e voltou a morar na sua cidade natal, Ubatuba, no litoral de São Paulo, há nove anos. Neste ano, ela se candidatou a prefeita na cidade pelo PSOL, mas teve 0,77% dos votos e não se elegeu.
À coluna ela conta que não tem acompanhado as notícias sobre o remake que a Globo prepara da trama, mas diz aprovar e “achar importante” que a novela ganhe uma releitura em 2025.
No caso do núcleo de Laís, a expectativa é que a personagem tenha um destaque maior na história agora, com ela e Cecília casadas oficialmente e em processo adotar uma criança. “Muito legal subir esse patamar. Naquela época, a gente ainda estava vivendo sob censura. Hoje em dia você pode falar sobre tudo aquilo sem ter um censor sentado no estúdio ou lendo os roteiros antes”, afirma.
Na versão original, de 1988, Cecília morre em um acidente de carro. Segundo o autor Gilberto Braga disse anos depois, a morte já era prevista e não foi uma resposta à reação do público. A ideia era incentivar a discussão sobre o fato de Laís não ter direito à pousada que as duas construíram juntas, já que a união entre homossexuais não era legalizada no Brasil na época.
Para Cristina Prochaska, a novela foi muito corajosa ao abordar o tema, mesmo sofrendo cortes da Censura Federal. Uma cena inteira em que as duas contavam para Heleninha Roitman (Renata Sorrah) os preconceitos que enfrentavam teve de ser reescrita. Posteriormente, outros diálogos foram vetados.
“O assunto [um casal gay] ainda enfrenta, em alguns momentos, preconceito e tabu, mas já melhorou muito. É importante que elas tenham esse destaque.”
Informada pela coluna que a autora do remake será Manuela Dias, a atriz diz não a conhecer pessoalmente, mas afirma que ela é “muito inteligente” e tem feito coisas importantes. Também aprovou a escolha de Taís Araújo para o papel de Raquel, a mocinha que foi vivida por Regina Duarte na versão original. “É uma excelente escolha e acho sensacional ser uma mulher negra.”
O nome da atriz Maeve Jinkings é cotado para fazer Laís, o que é visto com bons olhos por Cristina. “O que eu já vi dela gostei.”
A atriz acrescenta que aceitaria um eventual convite da Globo para fazer uma participação especial no remake. “Seria legal que todos os artistas do elenco original pudessem fazer uma ponta. As pessoas que têm ‘Vale Tudo’ no coração iam adoram ver aquela Cristina de 30 e poucos anos agora com 66.”
Ela acrescenta que, “diferentemente do que muita gente acha”, não deixou a carreira artística, mas está em um outro momento de vida, com outras prioridades e querendo “devolver” para a sociedade tudo o que conquistou.
“Eu tive o lado glamuroso da profissão e foi bacana, mas a minha raiz é muito diferente disso. Eu sou uma pessoa que uso sandália Havaianas e ando de vestidão”, diz.
“Sendo uma menina caiçara, vindo de uma cidade pequena [Ubatuba] e conquistando muita coisa no Rio de Janeiro, eu estou no momento de passar o bastão e devolver isso.”
Ela afirma que segue fazendo ‘teatro sem parar’ e cinema, assim como também dá aulas de fotografia. “O meu objetivo de vida hoje é criar pontes para que pessoas possam melhorar a vida por meio da arte e da cultura.”
Apesar de disputar a eleição em Ubatuba, Prochaska afirma não ter interesse em ocupar cargos majoritários. “Eu estava ali para fazer uma luta [social] e por um partido que eu acredito, o PSOL”, explica.
“Gosto de política. Estou dentro de conselhos, de fóruns ligados à cultura e às leis de incentivo. Essa é a minha forma de atuar politicamente”, diz.
CENÁRIO
O jornalista Jotabê Medeiros recebeu convidados, na semana passada, no lançamento do seu primeiro romance ficcional, “A Culpa é do Lou Reed”. Ele conversou sobre a obra com o escritor e jornalista Fred Di Giacomo Rocha durante o evento, realizado no Alvenaria Espaço Colaborativo, em Perdizes, na capital paulista. O jornalista e historiador Moacir Assunção, a atriz e diretora Nara Ferriani, o editor Marcelo Nocelli e o jornalista Paulo Vieira, colunista da Folha, marcaram presença na celebração.
com JOELMIR TAVARES, KARINA MATIAS, LAURA INTRIERI e MANOELLA SMITH
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.