A Câmara estava em votação no momento da explosão no estacionamento. Os deputados discutiam a PEC que amplia a imunidade tributária das igrejas. Com a notícia das explosões, parlamentares reclamaram da continuidade da sessão apesar da “banalização da violência e dos ataques de 8 de Janeiro”, em referência aos atos ocorridos também na praça dos Três Poderes.
Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) suspendeu a sessão às 21h14 após a confirmação da morte. O deputado manteve os trabalhos até o horário com o argumento de que estava “aguardando o chefe da Segurança da Câmara dos Deputados”.
O STF divulgou uma nota dizendo que “ministros foram retirados do prédio em segurança”. A Corte afirmou que “dois fortes estrondos foram ouvidos”. A sessão do Supremo era sobre operações policiais nas favelas do Rio. A sessão contou com autoridades e representantes da sociedade civil. Por isso, o plenário estava mais cheio do que o normal — na hora das explosões, muitos ainda estavam no prédio.
A investigação do atentado
Inquérito foi aberto ainda na noite de quarta. Hoje pela manhã, fontes da PF informaram ao UOL que o caso será tratado como ato terrorista.
PF divulgou nota ontem, cerca de duas horas após as explosões, informando que um inquérito policial seria instaurado para apurar os ataques. Há uma coletiva marcada a manhã desta quinta-feira (14) na qual a corporação deve dar mais detalhes sobre as investigações.
Alexandre de Moraes conduzirá investigação. O caso foi parar com o ministro do STF por conexão com outras investigações que ele já conduz, como o inquérito sobre a tentativa de golpe de 8 de janeiro e o que apura ataques a ministros do tribunal. As conclusões da PF serão encaminhadas para Moraes.
O ministro avaliou que a tentativa de atentado “não é um fato isolado”, porque faz parte de um contexto de ataque às instituições e suas autoridades. Moraes deu a declaração no VI Encontro Nacional do Ministério Público no Tribunal do Júri, em Brasília, na manhã de quinta.
A ex-mulher do autor das explosões afirmou em depoimento à PF que o plano dele era matar Alexandre de Moraes. A informação foi divulgada pela jornalista Daniela Lima, da GloboNews, e confirmada pelo UOL.
Quem era o autor
Autor não era de Brasília. O homem que morreu após explosões na praça dos Três Poderes era de Santa Catarina, tinha 59 anos e estava no Distrito Federal havia cerca de quatro meses, de acordo com informações obtidas pelo UOL.
Francisco Wanderley Luiz era dono de carro encontrado na Câmara após explosões. A vice-governadora do DF, Celina Leão, não citou o nome de Luiz, mas confirmou em coletiva nesta noite de que o homem morto é o dono do carro. “É o nome que está circulando na imprensa”, disse.
Boletim de ocorrência diz que Luiz jogou artefatos que causaram explosão, mas a distância impediu que atingisse o prédio do STF. Um segurança do Supremo relatou aos policiais que o homem mostrou os explosivos que carregava dentro da jaqueta.
O catarinense de Rio do Sul foi candidato a vereador em 2020 pelo PL. À época, ele se candidatou com o nome Tiü França e recebeu 98 votos e não foi eleito para o cargo.
Filho afirma que Luiz saiu de Santa Catarina há cerca de quatro meses para trabalhar em Brasília. A família não sabia sobre seu paradeiro.
Ele trabalhou como chaveiro e camelô. À Justiça Eleitoral em 2020 o suspeito informou também ser casado e ter ensino médio incompleto. Não há registro de outras candidaturas dele a cargos públicos desde então. Nas redes sociais, ele se apresentava como empreendedor, investidor e desenvolvedor.
“Deixaram a raposa entrar no galinheiro”, disse o chaveiro ao postar uma suposta foto no plenário do STF. A Corte informou ao UOL que apura a data exata do registro e a veracidade da imagem.
Em publicações no Facebook, horas antes das explosões, Luiz falou em bombas na casa de lideranças políticas. “Cuidado ao abrir gavetas, armário, estantes, depósito de matérias, etc.”, escreveu.
Homem foi alvo de processo por “infração de medida sanitária preventiva”. De acordo o MP-SC (Ministério Público de Santa Catarina), em 20 de junho de 2021, ele “promoveu entretenimento” em um estabelecimento comercial e ignorou as medidas de enfrentamento da pandemia então em vigor, promovendo aglomeração de cerca de 80 pessoas. A Justiça entendeu que o homem não poderia ser responsabilizado pela conduta de um grupo de pessoas e ele foi absolvido no caso.
Outro processo pelo mesmo motivo (“infração de medida sanitária preventiva”) foi iniciado contra homem em 2023. Além desse caso, o MP-SC move desde 2020 um processo por crime ambiental contra o homem. Não há registro de decisões judiciais relacionadas aos dois casos.