O caso aconteceu no início da manhã de domingo (1º). Sâmia Silva Sá, de 21 anos, que dirigia o carro, responde por duas tentativas de homicídio, sendo uma por dolo direto e outra por dolo eventual, danos materiais, lesão corporal e injúria. A investigação é conduzida pela 1ª Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP – Palmas).
A defesa de Sâmia informou que ela está cumprindo prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica e que “neste momento, não serão fornecidos outros esclarecimentos, respeitando o direito à privacidade e à preservação das informações do caso”.
Motorista invadiu distribuidora de Palmas em alta velocidade
A atendente, de 23 anos e que não quis se identificar, contou que quando Sâmia chegou ao estabelecimento um colega começou a atendê-la, mas ela assumiu para que ele ajudasse outras pessoas com pedidos.
A cliente queria só uma cerveja, mas a partir das 4h a distribuidora só vende bebida em caixa fechada, e a atendente teria explicado isso a Sâmia, que ficou insistindo no pedido.
Ferimentos sofridos pela atendente de distribuidora de Palmas — Foto: Divulgação
“Eu já continuei o atendimento dela e ela falou me explica o que seria uma caixa fechada. Tinha uma caixa na minha frente eu falei ‘é isso aqui, tenho tantas unidades essa é a caixa fechada’. A partir desse momento ela já começou a se exaltar. Aí ela falou: ‘então passa essa caixa pra mim’. Deu o total de quarenta e um reais e pouco. O colega que estava na grade colocou o valor na maquininha e foi passar pra ela. Quando foi passar ela questionou o por quê desse valor todo”, relembrou.
Discordando do valor, Sâmia disse que não levaria mais a cerveja, somente o isqueiro. Mas após fazer o pagamento somente do isqueiro, questionou onde estava a caixa de cerveja dela, segundo a atendente. Vendo que a situação daria confusão, a partir desse momento o outro atendente assumiu o atendimento da mulher, que mesmo assim começou a provocar a funcionária.
Sâmia, então, resolveu que que queria a caixa de cerveja, mas só que fosse vendida pela atendente. “Aí ela falou, eu quero, mas eu só quero se for com ela. Comigo. Eu quero que essa funcionariazinha me atenda, porque o sou cliente e ela deve me servir. Aí eu falei: ‘não vou te atender’. O moço do óculos [que ela agrediu posteriormente] falou: ‘moça, por favor, passa e para de show. Ela não vai te atender. Eu estou aqui, eu vou te atender agora’. Aí é o momento que ela bate a mão na maquininha”, explicou.
Como funcionário pegou a máquina de passar cartão e começou o atendimento de outra pessoa, Sâmia começou a se exaltar.
Vendo que não teria atenção dos atendentes e conforme imagens da câmera de segurança do estabelecimento, que o g1 teve acesso, mostraram Sâmia começou a pegar coisas de dentro de uma lixeira que estava na porta para jogar dentro da loja. Também começaram as agressões pessoais à funcionária.
“Era uma garrafa de vidro e uma latinha, ela pegou e tacou lá dentro. Aí começou a xingar, me chamou de feia, de burra continuou falando funcionariazinha. Me diminuindo, né? Falando que ela tinha dinheiro, que ia me matar, que ia me esperar até à noite se fosse preciso lá fora, que ela ia me pegar. E ficou me chamando lá para fora”, afirmou.
Vídeo mostra mulher brigando com funcionária antes de invadir distribuidora com carro
“Eu não ia poder fechar meu caixa com ela me jogando lixo. Aí foi então que eu fui lá pra fora conversar com ela. Quando eu cheguei eu já recebo um murro na cara. E depois desse momento ela já agarrou no meu cabelo, que é grande, e não quis soltar de jeito nenhum. Nessa hora que a gente cai no chão e ela fica agarrada no meu cabelo, chegam os meninos pra ajudar”, contou, ressaltando que em nenhum momento teria agredido a cliente.
Quantidade de cabelo que a atendente perdeu após briga na porta da distribuidora em Palmas — Foto: Divulgação
Depois da briga na porta da distribuidora, a atendente contou que Sâmia tentou acessar o local por uma porta lateral. Nesse momento, ela estava com uma garrafa quebrada nas mãos, e fez ameaças aos funcionários. Mas foi segurada por pessoas que estavam por peto e retirada das dependências.
Passados cerca de 15 minutos entre o momento da chegada à distribuidora e a luta corporal, Sâmia vai até o carro em que estava, faz uma manobra e direciona o veÍculo para o estabelecimento. A atendente relembra o que viu desse momento em que por pouco foi atropelada:
” Voltei a fechar meu caixa. Quando eu estou terminando de fechar vem umas meninas gritando, falando que ela está louca. Quando eu olho pro lado o carro já está vindo na minha direção. O carro veio com tudo aí eu só senti aquele baque. Aí eu fui arrastada pelo caixa. Depois que acaba tudo eu vejo uma brecha assim entre a pilastra e o caixa e saio correndo correndo, escorregando no caco de vidro, tanto é que tive corte nos pés e vou lá pro fundo da loja me esconder”.
Veja cronologia do momento que mulher chega até a hora que invade distribuidora com carro
Nas imagens do circuito interno é possível ver Sâmia sendo segurada por funcionários e clientes. A atendente contou que nesse momento, a mulher tentava encontrar a atendente dentro da loja e gritava que iria matá-la.
Após o susto da invasão em alta velocidade, a atendente recebeu cuidados dos bombeiros e enquanto esperava o namorado buscá-la, Sâmia, que também era atendida por um bombeiro, conseguiu correr e agrediu mais uma vez a funcionária da distribuidora, a derrubando no chão. “Não deu tempo nem deu fazer nada com ela. Aí o pessoal já segura ela e me coloca pra lá. E eu só entro no carro e vou embora”, completou.
Questionada sobre o que teria levado Sâmia ao estado de fúria, a atendente acredita que foi por ela ter sido ignorada quando estava causando problemas ao fazer o pedido da cerveja.
“Mas a partir do momento que eu acho que eu entrei no atendimento pra tentar explicar melhor, ela viu aquilo como uma ofensa. Eu acho que vindo de uma parte feminina, ela pegou aquilo como uma ofensa diretamente pra ela. Eu vi que a face dela já mudou. Depois disso ela começou toda essa série de agressões querendo me diminuir como funcionária”, opinou.
Sâmia tenta agredir a atendente novamente após a chegada dos bombeiros — Foto: Reprodução
A atendente disse que toda a situação quese a levou a entrar em pânico por medo de Sâmia matá-la.
Ela prestou depoimento e fez exame de corpo de delito para mostrar o resultado das agressões. Até esta terça-feira (3), quando conversou com a equipe do g1, a jovem estava com um olho roxo, feridas pelos braços e inchaço em um dos pés.
Questionada sobre o futuro, a atendente disse que sente medo de encontrar Sâmia novamente.
“Mesmo ela com prisão domiciliar eu não posso confiar. Estou com medo, não posso confiar sair na rua agora porque a pessoa tentou me matar. Não foi excesso de raiva, não foi ela tentando se defender. Desde o momento que ela começou, ela estava tentando me matar. Desde o momento que ela tentou invadir com o carro até o momento depois do atropelamento. Ela ainda foi lá fora tentar me bater”, lamentou a funcionária.
O que diz a defesa de Sâmia
Informamos que, após a realização de audiência de custódia, a senhora Sâmia encontra-se em liberdade. A defesa, representada pelos advogados Lucas Ferreira Bitencourt (OAB/TO 12.991), Caio Pinheiro Dutra (OAB/TO 5.849) e Pablo Araújo Macedo (OAB/TO 5.849), reafirma seu compromisso de zelar pela ampla defesa e pelo devido processo legal, confiando na correta apuração dos fatos pelas autoridades competentes.
Neste momento, não serão fornecidos outros esclarecimentos, respeitando o direito à privacidade e à preservação das informações do caso.