Se restavam dúvidas sobre o motivo por trás da agressão de torcedores israelenses que estavam em Amsterdã para ver seu time, Maccabi Tel Aviv, jogar na semana passada, uma investigação do jornal The Wall Street Journal deve esclarecê-las.
O que aconteceu não foi só uma resposta às provocações de alguns desses torcedores. Não foi só uma explosão da raiva motivada pela guerra na Faixa de Gaza. Foi algo muito mais sombrio.
“Os torcedores do Maccabi viajaram para a capital holandesa para um jogo com o time local Ajax na noite de quinta-feira (7)”, escreveu o Wall Street Journal. “Mal sabiam eles que, mais cedo naquele dia, tinham se tornado tema de debate em aplicativos de mensagens, onde circulavam convites para uma ‘Jodenjacht’, ou caçada aos judeus.”
Caçada aos judeus: por mais grotesca que seja a expressão, ela já não surpreende. É isso, afinal, que promete o grafite em uma parede de uma estação de metrô em Oslo, na Noruega: “Hitler começou. Nós terminaremos”.
Ou a onda de crimes de ódio com motivação antissemita em Chicago, que incluiu a descoberta de panfletos contaminados com veneno de rato no Lincoln Park em abril, um ataque a tiros contra um homem judeu que se dirigia à sua sinagoga em West Rogers Park, em outubro, e uma agressão de homens mascarados a dois estudantes judeus da Universidade DePaul.
O mesmo vale para uma longa sucessão de agressões —golpes súbitos, atropelamentos e, mais recentemente, uma tentativa de sequestro de uma criança— contra judeus hassídicos em Nova York.
O suposto estupro coletivo de uma menina judia de 12 anos por adolescentes que proferiam “ameaças de morte e comentários antissemitas” perto de Paris em junho, segundo relato da agência de notícias AFP, é uma caçada aos judeus.
O incêndio criminoso de um bonde em Amsterdã nesta segunda-feira (11) —uma continuação do caos da semana passada—, com arruaceiros vestidos de preto gritando “Kanker Joden”, “judeus câncer”, também é.
Por fim, o que um terrorista do Hamas fez em 7 de outubro de 2023 também é uma caçada aos judeus. “Pai, estou ligando do telefone de uma judia. Acabei de matá-la, e também matei o marido dela. Matei dez com as minhas próprias mãos”, diz ele segundo uma gravação do telefonema depois compartilhada.
Preste atenção no que esses agressores não estão dizendo. Eles não estão se expressando nos termos do antissionismo. Não estão denunciando Israel ou defendendo os direitos dos palestinos. Não estão tentando distinguir entre judeus e israelenses.
Eles estão, como gerações de participantes de pogroms (nome dado aos ataques contra judeus no Império Russo entre o final do século 19 e o início do século 20), simplesmente atrás de judeus —um lembrete da verdade, se é que ele é necessário. Vem à mente uma frase frequentemente atribuída a Maya Angelou: “Quando as pessoas lhe mostram quem são, acredite nelas na primeira vez”.
Isso torna ainda mais evidente como algumas pessoas inicialmente tentaram obscurecer a natureza do pogrom de Amsterdã. A imprensa raramente hesita em chamar certos tipos de crimes de ódio de racistas. No entanto, por dias a palavra “antissemita” foi posta entre aspas ou atribuída a autoridades holandesas nos textos. A identidade dos agressores foi encarada como um mistério ou um segredo, sem falar da sutileza do primeiro-ministro da Holanda, Dick Schoof, ao falar que os agressores tinham “um histórico de migração”.
Muita atenção também foi dada a alguns israelenses que derrubaram uma bandeira palestina, vandalizaram um táxi e entoaram xingamentos contra árabes em hebraico. Não há desculpa para nada disso. Mas alguns torcedores de futebol do Reino Unido na Alemanha são conhecidos por celebrar baixas militares alemãs em guerras passadas. Por algum motivo, isso não leva a um frenesi de violência organizada.
Tentar usar o contexto da guerra em Gaza para entender o que aconteceu em Amsterdã tampouco é produtivo. Ninguém com alguma decência buscaria explicar ataques racistas contra asiáticos nos EUA dizendo que os agressores podiam estar com raiva, digamos, dos abusos dos direitos humanos na China ou de seus padrões de biossegurança.
No entanto, muitas pessoas supostamente decentes rapidamente tentam explicar o mal causado aos judeus usando como referência o mal —no entendimento deles— que os judeus causam a outros. Como Leon Wieseltier apontou anos atrás, esse tipo de raciocínio não é uma explicação para o antissemitismo. É a essência dele.
O antissemitismo na Europa agora alcançou um ponto onde o futuro de muitas de suas comunidades judaicas está em risco. Não tenho certeza de que a maioria dos europeus entende o tamanho da catástrofe civilizacional que isso representa —embora menos para os judeus da Europa, a maioria dos quais encontrará outros lugares para ir e prosperar, do que para o próprio continente. Historicamente, os destinos das sociedades que se tornam “Judenfrei”, livres de judeus, não foram felizes.
Lá Fora
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Os EUA ainda estão longe desse ponto, graças a uma comunidade judaica maior e mais confiante politicamente, juntamente com uma cultura nacional que tradicionalmente admira os judeus.
Mas essa cultura também está sob crescente ameaça, seja por parte dos apoiadores do Hamas existentes nas universidades de elite e no campo editorial; dos membros da comunidade afro-americana que admiram Louis Farrakhan, líder do movimento Nação do Islã; ou dos ultradireitistas que, com uma piscadela sinistra, dizem ser contra os globalistas e neoconservadores.
Os americanos (e não só os judeus) devem tomar cuidado: se continuarmos nesse caminho, a caçada aos judeus de Amsterdã poderá ter nós como alvos, e mais cedo do que pensamos.