![](https://portalgilbertosilva.com.br/wp-content/uploads/2024/11/ANUNCIE-AQUI-2.jpg)
Críticos acusam Donald Trump de ser caótico demais para conseguir fazer muita coisa. A rapidez com que ele tem nomeado o alto escalão do governo pode convencê-los do contrário: o presidente eleito dos Estados Unidos está focado em negócios.
Os mercados de ações e de títulos corporativos estão satisfeitos com a perspectiva de desregulamentação e cortes de impostos em um segundo mandato de Trump. O The Economist, por outro lado, alertou em editorial que deportações em massa e uma guerra comercial global podem causar danos reais.
As próprias nomeações atestam o desejo de Trump por disrupção, por uma linha dura com a China e por lealdade absoluta a ele próprio. Com esse conjunto de sinalizações, você pode se perguntar o que está prestes a atingir a economia mundial.
A resposta vem em três partes, começando com as intenções de Trump.
O compromisso com a desregulamentação pode ser bom para o crescimento econômico. Elon Musk, o homem mais rico do mundo, e Vivek Ramaswamy, um empreendedor-político, foram nomeados chefes de uma nova entidade grandiosamente chamada de Departamento de Eficiência Governamental, ou DOGE.
Uma promessa de cortar US$ 2 trilhões do orçamento anual do governo é absurda, mas uma liberalização criteriosa poderia ser benigna.
A nova administração pode ainda acelerar a legislação sobre desregulações que já está no Congresso. Trump também prometeu liberar a inteligência artificial. A tecnologia está faminta por mais poderes. Imagine se regras de planejamento mais fáceis ajudassem a desencadear uma revolução.
Folha Mercado
Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes.
Infelizmente, Trump também quer deportar milhões de imigrantes irregulares, impor tarifas de até 60% sobre produtos da China e aumentar a carga tributária entre 10% e 20% para os do resto do mundo. Tudo isso seria ruim para o crescimento.
Por exemplo, os custos da deportação em massa poderiam, segundo uma estimativa, chegar a centenas de bilhões de dólares. Isso não inclui o fardo econômico de escassez de mão de obra e preços ao consumidor em trajetória ascendente: aproximadamente metade dos trabalhadores nas fazendas dos Estados Unidos não tem status legal.
A segunda parte da resposta é que os nós na agenda de Trump serão resolvidos por necessidade, à medida que a hipérbole dos discursos de campanha entra em contato com a realidade confusa de governar.
As políticas exigem tanto esforço para serem implementadas que a gestão simplesmente não conseguirá fazer tudo de uma vez.
Impor tarifas universais levará tempo, pois precisariam de aprovação do Congresso ou do uso de poderes presidenciais não testados. Mas legisladores republicanos pró livre comércio poderiam recuar diante de tarifas sobre aliados próximos dos Estados Unidos. E o uso da legislação existente para impor uma tarifa universal por motivos de segurança nacional provavelmente seria contestado nos tribunais.
Da mesma forma, apreender, deter e processar milhões de pessoas seria um pesadelo logístico. As agências federais precisariam recorrer às autoridades estaduais para obter ajuda, muitas das quais se recusarão.
A terceira parte da resposta é que, entre intenções e prioridades, está o temperamento do próprio Trump.
Ele tem uma predileção por escolher favoritos e depois descartá-los. Ele também não deve nada a ninguém.
Apesar de sua nomeação de Stephen Miller, de lealdade de longa data e de linha-dura em imigração, para a Casa Branca, Trump pode priorizar o crescimento e fazer barulho sobre deportação, mas limitando os efeitos no mundo real.
É mais Musk que pode receber favores especiais, na visão dos mercados. Mas a parceria vai durar?
A única disciplina sobre um presidente que teve tanto sucesso desafiando os especialistas ao seu redor será imposta por esses mesmos mercados. Trump tem os preços das ações como um barômetro de sucesso.
A conclusão que os mercados parecem estar tirando é que tudo vai dar certo. Embora estejam atentos aos riscos de inflação e clientelismo, os investidores estão apostando que tarifas e deportações causarão pouco dano. Em vez disso, os cortes de impostos produzirão um impulso que aumentará os lucros corporativos e a desregulamentação trará crescimento duradouro.
Mesmo que essa previsão se prove correta sobre os Estados Unidos —e a dúvida é bastante grande—, ela é otimista demais para o resto do mundo.
Se os Estados Unidos tomarem empréstimos, aumentarem tarifas e crescerem, o dólar se fortalecerá. Isso reduzirá o comércio. Também trará taxas de juros mais altas e um maior fardo da dívida em dólar nos países em desenvolvimento.
Lá Fora
Receba no seu email uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo
Alguns governos estarão na linha de fogo, especialmente se a ameaça de estender tarifas além da taxa universal se tornar uma ferramenta de negociação.
O mais vulnerável é o México, que será alvo tanto da política de imigração de Trump, porque muitos imigrantes ilegais cruzam a fronteira com os Estados Unidos, quanto de sua política comercial, porque o México abriga fábricas que enviam exportações sob o Acordo Estados Unidos-México-Canadá.
Trump parece ter uma animosidade especial contra os líderes da União Europeia. Muitos republicanos alegam que, ao arcar com os custos das tropas americanas na Europa como parte da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), os Estados Unidos estão, na prática, pagando pelo bem-estar europeu.
Para Trump, o enorme superávit comercial da UE com os Estados Unidos é um insulto. E a Europa deverá pagar por isso.
O principal alvo de uma política econômica hostil será a China. Marco Rubio, no Departamento de Estado, e Mike Waltz, como conselheiro de segurança nacional, querem que a rivalidade entre as duas maiores economias do mundo esteja no centro da política americana.
À medida que as empresas movem cadeias de suprimentos para fora da China, alguns países podem se beneficiar. Outros podem estabelecer uma amizade com Trump. Como regra, no entanto, a separação das economias americana e chinesa seria altamente disruptiva.
Os países fariam bem em se preparar para o que está por vir.
A UE disse que direcionará dezenas de bilhões de euros em gastos para a defesa. Mas ficou muito atrás em inteligência artificial e adiou o fortalecimento de seu próprio mercado interno por muito tempo.
A China está em uma posição melhor, mas adiou de forma imprudente a estimulação da demanda doméstica.
Se Trump lançar uma salva de tarifas, retaliar terá um apelo sedutor. No entanto, seria um ato de autossabotagem.
Poucos países estão mais isolados contra choques comerciais do que os Estados Unidos, com seu grande mercado interno. Melhor aproveitar o lado positivo da economista trumpista e desregulamentar. Se Trump quiser tombar a escala a favor dos EUA, a melhor maneira de lidar será se tornar mais competitivo.
Texto do The Economist, traduzido por Tamara Nassif, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com