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A atriz e escritora Bruna Lombardi levou um susto em maio deste ano ao ir parar no hospital e ficar internada três dias com um quadro de estafa. “Estava esgotada, trabalhando em um ritmo muito alucinado, mas não percebia”, diz ela à coluna. “Sentia um mal-estar generalizado. Era como se fosse um enjoo, e ficava sem comer porque tinha dores de estômago.”
“Hoje, a gente está sempre conectado, respondendo [mensagens] no WhatsApp. É como se você estivesse falando com todos os seus amigos ao mesmo tempo, numa festa eterna, um escritório ininterrupto e você não percebe. É uma coisa muito insana.”
Apesar do susto, ela diz que pôde fazer um “check-up gigante” e, aos 72 anos, viu que “não tem nada”. Bruna não come carne, nem toma refrigerante e tampouco consome alimentos ultraprocessados. Para ela, foram esses hábitos que a ajudaram a não ter nada mais grave.
“Tenho uma alimentação bem legal, saudável mesmo. Não é nenhuma imposição de dieta, é porque eu gosto. Na verdade, sempre fui uma pessoa alternativa. Faço sucesso como uma pessoa de mainstream, mas eu tenho uma alma alternativa”, afirma.
Bruna recebeu a coluna para uma entrevista em sua casa localizada no bairro do Morumbi, na zona sul de São Paulo. O imóvel é rodeado por um jardim extenso, cheio de árvores e palmeiras, formando uma espécie de oásis em meio ao caos da cidade.
A conversa ocorreu na sala de estar, que tem pé direito altíssimo, piso de madeira, paredes de concreto e é cercada por janelas que vão do piso ao teto. Decorado com diversas obras de artes, desde esculturas a fotografias e quadros, a disposição dos objetos segue os preceitos do feng shui —uma prática chinesa que estuda como os ambientes afetam nossas vidas.
“Com o mundo do jeito que está, a gente precisa ter um canto nosso. Não precisa ser um lugar luxuoso. Isso [a casa] eu fui construindo ao longo dos anos e tem uma beleza mesmo. Mas pode ser um lugar pequeno, desde que passe aquela sensação de conforto.”
Bruna lançou neste ano o livro “Manual para Corações Machucados” (editora Sextante), que reúne 88 crônicas sobre as mais diversas formas de amor. Na obra, ela falou sobre o tesão que, em sua visão, é algo diretamente ligado ao entusiasmo das pessoas pela vida.
“O tesão é uma coisa que é muito inata às pessoas. Eu sempre lidei muito com esse tema na minha vida, até para lutar contra a repressão. Mas eu acho que o tesão está muito ligado com a alegria de viver. O sexo está muito ligado com tudo, com a natureza”, diz.
“Sexo não é só…o ato em si. Com a pessoa que você ama. Ele existe no teu contato com a natureza, nos sabores, nas cores, nos cheiros. Tudo é sensorial e, portanto, tudo é sensual. Uma coisa está sempre muito interligada à outra, o que é, no fundo, o teu tesão pela vida”.
A atriz, que nos anos 1980 causou certo alvoroço ao lançar o livro de poesias eróticas “Perigo do Dragão”, diz que “muita gente ainda fica chocada com qualquer tipo de liberdade da mulher”.
“Desde os princípios dos tempos a mulher é temida. O poder feminino é tão gigantesco que sempre assustou os homens e precisou ser abafado, massacrado, contestado, criminalizado. Até hoje tem sociedades que cortam o clitóris da mulher, que impedem ela de mostrar mais do que um pedacinho do olho. Trabalho muito nas minhas redes, nas minhas palestras, para que as mulheres descubram, desabrochem e desfrutem desse poder”.
A atriz afirma que, atualmente, vê uma “liberação muito grande e boa” na maneira como as pessoas vivem sua sexualidade. “As portas abriram para a gente levantar os nossos temas, discutir”, avalia. Por outro lado, ela diz enxergar uma “forte e crescente repressão”.
“A gente espera que ela não vingue. A liberdade é uma palavra muito forte. Eu me lembro que meu pai falou o seguinte: ‘Eu vou e deixo para meus filhos de herança a liberdade’. E é muito lindo isso. Para mim foi muito forte.”
“Acho que todo mundo tem a liberdade de pensar o que quiser, inclusive o cara que quer que a mulher seja submissa. Ele tem o direito dele. E a mulher que quer aquilo [ser submissa] tem o direito dela. Assim como o direito de quem quer mudar de sexo tem que ser respeitado”, completa.
Bruna critica a recente investida do Congresso contra os direitos reprodutivos das mulheres por meio do projeto de lei 1904/2024. Conhecida como PL Antiaborto por Estupro, a proposta criminaliza o aborto após a 22ª semana de gestação para vítimas de estupro.
“É um absurdo. Nós vivemos num país de extraordinária impunidade. E, dentro dessa impunidade, não é curioso que a única preocupação dos totalitários seja punir as mulheres? Na idade das trevas eram as mulheres que iam para fogueira. Será que a gente está entrando nessas trevas e não está percebendo?”, questiona.
Bruna conta que botou o pé no freio e diminuiu o ritmo de trabalho nos últimos meses —antes da ida ao hospital, ela afirma que chegava a marcar seis compromissos em um único dia.
A atriz passou uma temporada em Los Angeles e fez viagens pela Europa. Os planos de fim de ano ainda não estão definidos, mas a ideia é ficar ao lado do marido, Carlos Alberto Riccelli, em meio à natureza. Alguns projetos do próximo ano já estão desenhados. Ela conta que lançará pela editora Record uma nova edição do romance “Filmes Proibidos”, publicado nos anos 1990, com textos inéditos.
Ao mesmo tempo em que afirma que “a gente está normalizando o terror e crime”, citando as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza, Bruna também se descreve como uma pessoa otimista.
“A história da humanidade é cíclica, porque tudo no universo tem esse movimento, mas ela é cíclica ascendente. A gente volta para o mesmo ponto, só que com alguma evolução”.
“Os crimes sempre existiram, só que agora existem as denúncias. Os direitos humanos estão claros, embora sejam violados, a defesa da mulher está ativa, embora haja tanto feminicídio. Você está sempre no confronto, mas você está sempre numa pequena evolução.”
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