
“Ela falou que não precisava de sedação porque meu curativo era muito pequeno. Expliquei que sinto muita dor, tomo metadona e morfina, aí ela [médica] começou a insinuar que minha dor era psicológica. O tempo todo ela me coagia a fazer o procedimento sem anestesia. Foi aí que começou a tortura, porque eu estava lúcida o tempo todo“, contou.
A úlcera de Marjolin é uma degeneração dos tecidos cutâneos que se desenvolve em áreas com inflamação crônica. A lesão é comum em cicatrizes antigas de queimaduras.
A Secretaria de Estado da Saúde disse que não concorda com quaisquer ações que diferem do atendimento humanizado nas unidades hospitalares sob sua gestão. A pasta informou que determinou verificação do caso à área técnica responsável para as medidas cabíveis.
O Ministério Público Estadual (MPE) informou que está verificando o caso.
Ferimento crônico após ser vítima de crime
Thais contou que o ferimento é consequência de um sequestro do qual foi vítima em 2011, em Palmas. Ela teve 40% do corpo queimado pelos criminosos e desde então passou por diversas cirurgias e enxertos. Com medo, a esteticista decidiu se mudar para Uruguaiana (RS), mas voltou temporariamente para acompanhar a avó que passa por um tratamento de câncer de mama.
“Depois que cheguei em Palmas, em dezembro, meu pé começou a piorar muito, não sei se pela viagem longa. Em janeiro comecei a ter muitas hemorragias, muita dor. A ferida que era menor começou a expandir e procurei ajuda médica”, disse Thais.
A esteticista conta que chegou na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) com um sangramento intenso e foi encaminhada para tratamento especializado no HGP. A internação aconteceu no dia 2 de março. “Toda vez que preciso fazer troca de curativo ou algum procedimento no meu pé, vou para o bloco cirúrgico e tomo sedação e anestesia. Tenho nervos e tendões expostos, então eu sinto muita dor ao toque”, explicou.
No dia 25 de março Thais retornou ao bloco cirúrgico para outra troca de curativo. Mas dessa vez a anestesista de plantão teria negado a aplicação do anestésico.
“Foi uma situação muito difícil. Me senti constrangida, humilhada, desrespeitada, ela minimizou a minha dor o tempo todo. Fui negligenciada do começo ao fim do procedimento”, contou.
A esteticista disse que só recebeu medicação após retornar ao quarto chorando muito e ser levada à enfermaria. “Até agora ninguém responsável pelo hospital veio falar comigo, nem ao menos me ouvir, me pedir desculpas. Eu merecia pelo menos isso”, desabafou.
Ferimento no dorso do pé está aberto desde 2023, segundo Thais Beltram — Foto: Arquivo Pessoal
Segundo Thais, os ferimentos reaparecem desde 2015, quando seu organismo começou a rejeitar os enxertos e ela teve que fazer novas enxertias. A ferida que ela trata no dorso do pé esquerdo está aberta desde junho de 2023. “Tem períodos que a gente acha que o pé vai cicatrizar e ele desanda, começa a ter sangramentos, hemorragias e infecções novamente”, contou.
A esteticista recebeu alta hospitar neste domingo (31), com indicação de retornos ao bloco cirúrgico a cada dois dias para continuar com os procedimentos e troca de curativos. Após o resultado da biópsia, Thais poderá ser internada novamente.
Paciente denuncia procedimento realizado sem anestesia no HGP