Ainda na noite de quinta-feira (19), às 23h55 a Justiça negou um pedido de habeas corpus de Carlesse. Em seguida, a defesa do ex-governador apontou que nesse pedido a Justiça não teria “analisado a possibilidade de aplicação de medidas cautelares diversas da prisão”.
Na manhã desta sexta-feira (20), às 8h39, mais um pedido de liberdade foi negado, após a Justiça analisar os pontos apresentados pela defesa. Os dois documentos foram assinados pela desembargadora estadual Angela Issa Haonat, do Plantão de 2ª Instância.
Conforme a decisão, a retenção do passaporte como medida cautelar à prisão não seria suficiente para evitar a possível fuga de Carlesse, já que Uruguai é um integrante do Mercosul, o que permite a entrada de brasileiros no país sem o passaporte ou visto.
“A dupla cidadania do Embargante representa, indubitavelmente, um fator de risco à aplicação da lei penal, uma vez que facilita a saída do território nacional e dificulta eventual processo de localização e extradição. A experiência jurisprudencial brasileira demonstra que, em casos semelhantes, a extradição de indivíduos com dupla nacionalidade tem se mostrado complexa e muitas vezes inviabilizada”, escreveu a desembargadora.
Propina em troca de contratos
Uma das empresas recebeu R$ 59 milhões em contratos no estado. Todos, segundo a PF, suspeitos de superfaturamento. Veja reportagem completa abaixo:
Documentos detalham pagamento de propina em troca de contratos públicos no TO durante o governo de Mauro Carlesse
Tentativa de fuga e prisão
Mauro Carlesse saiu do IML de Gurupi e seguiu para a unidade penal — Foto: Antoniel Cavalcante/Ronda Policial Tocantins
O g1 tentou contato com a defesa de Claudinei Quaresemin, mas não houve retorno até a última atualização desta reportagem.
Identidade uruguaia e passaporte italiano de Carlesse fundamentaram pedido de prisão — Foto: Reprodução
O ex-secretário teria providenciado documento de identidade e autorização para residência fixa no Uruguai para ele e o tio. A decisão que autorizou a prisão ainda destacou que em 23 de abril de 2024, Quaresemin enviou a Carlesse uma foto da carteira de identidade uruguaia do ex-governador, expedida em 3 de abril de 2024.
Vilarejo de Pieve Caina, para onde Mauro Carlesse pretendia fugir, segundo a Justiça — Foto: Google Maps/Reprodução
O ex-governador Mauro Carlesse (Agir) negou o plano de fuga internacional durante entrevista à TV Anhanguera. Ele afirmou ter passaporte e cidadania italiana para viagens de férias. Segundo ele, a identidade uruguaia que conseguiu está relacionada a transações comerciais.
“Por ser um cidadão italiano eu posso ter casa lá. Tinha que ter uma casa lá, tinha não, tenho. Pra quando eu for de férias, por algum motivo, ter onde ficar. O Uruguai é comércio, negócio. Fui várias vezes, vou várias vezes se precisar. É do Mercosul, nós temos muito interesse, inclusive do estado aqui, de levar produto e trazer produto”, disse Carlesse em entrevista à TV Anhanguera.
Mauro Carlesse assumiu o Poder Executivo do Tocantins em 2018. Ele era presidente da Assembleia Legislativa e acabou na cadeira de governador porque Marcelo Miranda (MDB) e Cláudia Lelis (PV), então governador e vice, foram cassados por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, após condenação por uso de caixa dois na campanha eleitoral de 2014.
Carlesse assumiu o mandato de forma interina e conseguiu se manter no cargo em uma eleição suplementar e depois novamente na eleição geral de 2018.
Ele ficou no cargo até outubro de 2021 quando foi afastado pelo Superior Tribunal de Justiça por suspeita de corrupção. Na época, a Polícia Federal apontou que Carlesse estava envolvido em um esquema de recebimento de propinas e também interferência política na Polícia Civil.