Ele acredita que as gravuras devem ter sido feitas por indígenas ancestrais das tribos Tupi (primeiros a ter contato com os portugueses que invadiram o país) e Aruak (que habitam regiões amazônicas como a Ilha de Marajó-PA), reafirmando a tese do professor Rafael Girard (um estudioso das civilizações e culturas americanas) sobre as gravuras dos Martírios.
Para ele, esses achados apontam que essas ilhas devem ter sido locais usados por comunidades indígenas pré-coloniais para algum tipo de culto ou ritual. “As imagens nos remete à veneração dos povos ancestrais americanos à imagem do sol, como ocorre com incas e maias. Futuras pesquisas poderão identificar o que elas querem dizer”, diz.
No caso dos incas, diz Eudes, o Deus Sol era a principal divindade. “Eles construíram inclusive um templo do Sol, o Inti Kancha.”
Já os maias também acreditavam em deuses do Sol, que os levaram, inclusive, a erguer um dos principais monumentos do povo: a Pirâmide do Sol.
Trata-se de uma cosmovisão buscando o equilíbrio e a harmonia das relações entre sociedade e natureza. Em tempos de mudanças climáticas, essas descobertas arqueológicas nos fazem pensar que mais do que nunca precisamos nos aproximar das pedagogias ancestrais, no sentido de superar nossos principais desafios, especialmente com relação ao aquecimento global.
Eudes Leopoldo
Mais sítios
As gravuras foram achadas durante uma pescaria por um militar aposentado, Samuel Barroso, que vive às margens do rio Araguaia. Ele contou sobre o achado, o que acionou pesquisadores.
Eudes conta que as imagens estão em uma área que vai da Serra das Andorinhas à Vila de Santa Cruz. Uma das ilhas, que não tinha nome até então, foi batizada como Ilha das Gravuras. “Estamos falando de uma área rica em termos de sociobiodiversidade”, diz.
Ele diz que a expedição revela uma possibilidade de que muitos outros sítios existam nas unidades de conservação dentro do Parque Estadual Serra dos Martírios/Andorinhas e na APA (Área de Proteção Ambiental) São Geraldo do Araguaia.
A expedição revelou que há muitos sítios, para além dos quase cem já encontrados, evidenciando que os vestígios dos grupos pré-ceramistas e ceramistas se apresentam numa área muito maior.
Eudes Leopoldo
A ideia, diz, é que estudos a partir de agora na área identifiquem e cataloguem esses sítios para que, no futuro, seja sugerido a criação de um geoparque.
A região é um dos maiores sítios arqueológicos de pinturas rupestres a céu aberto do mundo. Vejo que São Geraldo do Araguaia pode reescrever a história da região com uma base econômica menos predatória. No resto da região, a destruição criativa da natureza com a mineração e a bovinocultura é avassaladora.
Eudes Leopoldo
Mais história
Segundo ele, a região ainda guarda uma importante história recente do país, que foi receber integrantes da Guerrilha do Araguaia, grupo que se organizou com armas para lutar contra a ditadura militar (1964-1985).
Nessa área existe a presença de utensílios e corpos dos revolucionários. A gente pode dizer então que os vestígios das lutas pela liberdade em plena ditadura em tempos modernos convergem com os vestígios dos povos ancestrais em tempos pré-coloniais. Isso é extraordinário.
Eudes Leopoldo
Reportagem
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