Desconfiança inicial da iniciativa
O Brasil iniciou reuniões com delegações estrangeiras para tratar da aliança no início deste ano. A ideia havia sido anunciada um pouco antes, no final de 2023, quando o Brasil assumiu a presidência do G20 (a cada ano, um país fica no comando do bloco; em 2023, foi a Índia; em 2025, será a África do Sul).
Em um primeiro momento, alguns países demonstraram resistência à ideia, porque já há outros mecanismos de combate à fome. Só na ONU existem duas importantes agências focadas no tema: a própria FAO e o PMA (Programa Mundial de Alimentos). Em 2012, o G8 (grupo das oito maiores economias do mundo, que não inclui o Brasil) criou a “Nova Iniciativa para Segurança Alimentar e Nutrição”, prometendo tirar 50 milhões de pessoas da pobreza na África em dez anos, mas “falhou em cumprir as promessas e desapareceu silenciosamente da arena pública”, segundo pesquisa da Universidade Charles em Praga.
Governo Lula buscou convencer os demais países de que era necessário uma nova iniciativa, devido ao grande número de pessoas com fome. Participaram das negociações o Itamaraty e o MDS. A linha de convencimento envolveu apresentar estatísticas sobre a situação de fome e pobreza no mundo e argumentar que era preciso, sim, uma nova ação coletiva. Após meses de reuniões, a iniciativa foi oficialmente anunciada por Lula em julho.
Não é a primeira vez que Lula lança uma iniciativa do tipo. Em 2004, em seu segundo ano de mandato, o presidente encabeçou uma “ação contra a fome e pobreza”, com adesão imediata de 107 países. Mas o projeto teve poucos resultados concretos.
O MDS sustenta que, desta vez, a aliança vai prosperar e obter resultados concretos. Em um primeiro momento, serão criados dois escritórios: um em Brasília, na Agência Brasileira de Cooperação (órgão do Itamaraty que gerencia os projetos brasileiros de ajuda internacional), e outro em Roma, na FAO. A ideia é, após um ano, fazer um balanço dos resultados alcançados.