Entenda, abaixo, o que levou à prisão do ex-governador que assumiu o governo em 2018, foi afastado do cargo, renunciou em 2021 antes de passar um por um processo de impeachment e responde a diversas acusações relacionadas a corrupção no Executivo Estadual do Tocantins.
Quais são as investigações contra Carlesse?
Ao todo, Mauro Carlesse é alvo de pelo menos cinco investigações e responde a ações penais. Governador do Tocantins entre 2018 e 2021, ele foi afastado do cargo pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) durante as investigações das operações Hygea e Éris, que apuram supostos pagamentos de propina no plano de saúde dos servidores públicos e aparelhamento da Polícia Civil.
Ele renunciou ao cargo em 2021 para evitar um processo de impeachment. Depois disto, as investigações, que estavam no âmbito federal, foram enviadas para a Justiça estadual A estimativa dos investigadores é de que cerca de R$ 44 milhões tenham sido pagos como propina para membros do executivo só em relação ao plano de saúde dos servidores públicos.
Foram cumpridos mandados de prisão nos endereços do político e houve inclusive a apreensão de um veículo de luxo. Foi nessa última operação que foram encontradas conversas e indícios de um suposto plano de fuga para o exterior. Carlesse nega que queria fugir do país.
Contra Carlesse constam as acusações de corrupção, lavagem de dinheiro, fraude em licitações, falsidade ideológica, obstrução de investigações, organização criminosa e peculato. Diante do suposto plano de fuga, o Ministério Público pediu a prisão dele e do sobrinho, o ex-secretário de Parcerias e Investimentos do Tocantins, Claudinei Quaresemin. As ordens foram emitidas pela 3ª Vara Criminal de Palmas.
Preso em fazenda no interior do Tocantins
Mauro Carlesse saiu do IML de Gurupi e seguiu para a unidade penal — Foto: Antoniel Cavalcante/Ronda Policial Tocantins
Carlesse foi preso na manhã de domingo (15), quando estava em uma fazenda de sua propriedade no município de São Salvador, no sul do Tocantins. O mandado foi expedido pela 3ª Vara Criminal de Palmas e cumprido pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual (MPTO).
A suspeita é de que ele estaria armando um plano de fuga para deixar o país.
“Evidencia-se a necessidade de se reguardar a instrução criminal e a aplicação da lei penal através da prisão cautelar antes que os acusados empreendam fuga para o exterior”, diz o juiz Márcio Soares da Cunha na decisão.
Transferência para quartel da PM e liberdade negada
Após o cumprimento do mandado, Carlesse foi levado para a delegacia em Gurupi. Passou por exame de corpo delito no Instituto Médico Legal (IML) e seguiu para a unidade penal da cidade para aguardar audiência de custódia.
A audiência de custódia aconteceu na tarde de domingo (15), a prisão foi mantida e determinada transferência de Carlesse para Palmas, comarca de origem da ordem de prisão. Ele foi levado para a carceragem do Quartel do Comando Geral da Polícia Militar, na capital.
O desembargador João Rigo Guimarães foi responsável pela negativa do pedido. O magistrado afirmou que a prisão está fundamentada em provas concretas que evidenciam o risco real de fuga para não ser punido pelos supostos crimes.
A defesa afirmou que irá apresentar novo pedido de revogação da prisão.
Ex-governador conseguiu documentos no Uruguai
Identidade uruguaia e passaporte italiano de Carlesse fundamentaram pedido de prisão — Foto: Reprodução
Na decisão que autorizou a prisão, o juiz Márcio Soares da Cunha destacou diálogos e indícios que comprovam um possível risco de fuga para o exterior de Carlesse para o Uruguai ou Itália. O plano supostamente estava sendo arquitetado junto com o sobrinho, Claudinei Quaresemin.
O g1 tenta contato com a defesa de Claudinei Quaresemin, mas não houve retorno até a última atualização desta reportagem.
O ex-secretário teria providenciado documento de identidade e autorização para residência fixa no Uruguai para ele e o tio. A decisão destacou que em 23 de abril de 2024, Quaresemin enviou a Carlesse uma foto da carteira de identidade uruguaia do ex-governador, expedida em 3 de abril de 2024.
No dia 4 de junho de 2024, o ex-secretário comunicou ao tio que o pedido de residência permanente no Uruguai havia sido deferido pelas autoridades do país. Também houve diálogos entre eles sobre como abrir contas e enviar dinheiro para o exterior.
Vilarejo na Itália seria outra rota de fuga
Além disso, Carlesse também estaria, segundo a investigação, usando um endereço italiano para supostamente constituir advogados e requerer documentos para família. Carlesse, que tem cidadania e passaporte italiano chegou a declarar residência em Marsciano (Perugia), onde fica o vilarejo de Pieve Caina, segundo citou o juiz.
Vilarejo de Pieve Caina, para onde Mauro Carlesse pretendia fugir, segundo a Justiça — Foto: Google Maps/Reprodução
Para a Justiça, não haveria nenhuma razão para Carlesse e Quaresemin manterem um imóvel alugado no povoado, a não ser para terem uma rota de fuga preparada, conforme destacado na decisão.
Carlesse nega fuga e diz que passaporte era para férias
“Por ser um cidadão italiano eu posso ter casa lá. Tinha que ter uma casa lá, tinha não, tenho. Pra quando eu for de férias, por algum motivo, ter onde ficar. O Uruguai é comércio, negócio. Fui várias vezes, vou várias vezes se precisar. É do Mercosul, nós temos muito interesse, inclusive do estado aqui, de levar produto e trazer produto”, disse entrevista à TV Anhanguera.
Veja como ocorreu a prisão do ex-governador Mauro Carlesse
Ele também afirmou que está prestando os esclarecimentos e seguindo ordens judiciais para provar sua inocência (veja a íntegra da defesa de Carlesse ao fim da reportagem).
“Eu nunca mais entrei em nenhuma repartição de Governo, eu nunca mais falei com meus secretários, pra não ter envolvimento, pra não dizer disso e tudo isso que estão me acusando, você pode ter certeza que eu vou provar. É só pegar a documento, analisar o que fizemos e vê se tem alguma coisa minha relacionado a alguma propina, há alguma coisa que possa me incriminar. E estou à disposição da Justiça”, afirmou na entrevista.
Investigações levaram à renúncia do governo
Mauro Carlesse, imagem de 2021 quando exercia o cargo de governador — Foto: Antônio Gonçalves/Governo do Tocantins
Mauro Carlesse assumiu o Poder Executivo do Tocantins em 2018. Ele era presidente da Assembleia Legislativa e acabou na cadeira de governador porque Marcelo Miranda (MDB) e Cláudia Lelis (PV), então governador e vice, foram cassados por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, após condenação por uso de caixa dois na campanha eleitoral de 2014.
Carlesse assumiu o mandato de forma interina e conseguiu se manter no cargo em uma eleição suplementar e depois novamente na eleição geral de 2018.
Íntegra da nota da defesa de Mauro Carlesse
O ex-governador Mauro Carlesse informa à população tocantinense que recebeu a notícia da prisão com indignação, pois não é condenado em nenhum processo e nem possui qualquer proibição de ir e vir, estando em pleno gozo de todos os seus direitos fundamentais, principalmente o de ir e vir.
Quando requisitado, sempre responde à Justiça com advogado constituído e colabora com as informações solicitadas.
Mauro Carlesse sempre esteve à disposição da Justiça e assim permanecerá. A defesa irá apresentar o pedido de revogação da prisão.