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A médica fez o peeling conhecido como AtaCroton, procedimento dermatológico agressivo indicado para tratar rugas profundas, cicatrizes e hiperpigmentação. Ela pagou R$ 8 mil pelo procedimento, realizado por uma dentista em Goiânia (GO), no dia 14 de novembro de 2024.
A médica optou por não divulgar o nome da dentista responsável pela aplicação e o g1 não conseguiu contato com a defesa dela. Segundo Isadora, as complicações em seu rosto começaram a surgir quase 40 dias depois do peeling.
“Eu comecei procurando a pessoa que tinha feito o peeling, porque a gente imagina que quem fez pode ajudar, né? Sabe a forma que foi feita, como que o qual produto foi utilizado. Mas eu não estava não estava vendo minha pele melhorar com as medidas que que ela tinha me passado. Na verdade, minha pele só piorava dia após dia e chegou a um ponto que ela me passou tantas medicações que eu fui parar no pronto-socorro com uma confusão mental”.
A médica chegou a passar mal enquanto estava no trabalho e pediu ajuda do irmão para ir ao hospital. Ela lembra que chegou ao pronto-socorro consciente, mas não conseguia falar e foi submetida a uma tomografia porque os médicos desconfiavam que poderia ser um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Depois, analisando a história clínica, descobriram de que se tratava de uma intoxicação.
Isadora disse que relatava as complicações de saúde para o suporte da dentista que fez o procedimento, mas eles respondiam que as reações eram normais. Depois do episódio de confusão mental, Isadora decidiu buscar ajuda de outros profissionais.
“Cheguei a buscar vários dermatologistas aqui em Palmas e eles foram muito honestos em me dizer ‘Izadora, não sei o que fazer nesses casos, nunca vi um caso assim e prefiro não mexer, porque a situação pode piorar'”, relembra.
Na última consulta em Palmas, uma dermatologista recomendou que ela procurasse o hospital especializado em tratamento de queimaduras, em Goiânia, onde recebeu a recomendação para o uso da máscara de compressão.
Médica relata que precisará usar máscara após procedimento estético dar errado
Resultados falsos nas redes sociais
Isadora Milhomem chegou ao perfil da dentista através de postagens no Instagram onde a dentista ostentava o resultado do peeling na pele das pacientes.
“No perfil dela existiam diversos antes e depois de pessoas com muitas cicatrizes de acne e depois com a pele lisa. Eu olhava aquilo ali e falava ‘nossa, se esse rosto que era tão pior do que o meu em termos de cicatrizes, ficou assim, imagina o meu’. Hoje vejo que esses resultados eram falsos”, afirmou.
Arte mostra rosto de médica antes e depois de apresentar reações a procedimento — Foto: Arquivo Pessoal/Arte g1
Antes de desativar o perfil no Instagram, a dentista chegou a postar o “resultado” de Isadora. Mas segundo a médica, as fotos não mostravam a realidade de sua pele. A foto do ‘antes’ postada pela profissional foi tirada após a sessão de microagulhamento que antecede a aplicação do peeling, dando a impressão que o rosto tinha mais cicatrizes por estar machucado, e o ‘depois’ foi feito após a queda total da máscara oclusiva.
“Os dermatologistas me explicaram que é um ‘efeito Cinderela’. Logo que você finaliza o processo de um peeling, o rosto fica muito inchado por causa do processo inflamatório e dá aquele brilho, aquele aspecto de pele lisa. Ela postava um ‘pós’ imediato, quando a pele costuma ter um aspecto melhor. E essas complicações geralmente aparecem depois de 40 dias de procedimento”, comentou.
Além dos efeitos estéticos negativos e do desconforto causado pela máscara de compressão que precisa utilizar 24h por dia, Isadora também começou a sentir coceira e ardência na pele após as complicações. “Dói muito também. Tenho que passar algumas pomadas e na hora de passar é um terror, porque dói bastante, incomoda muito”, relatou.
Desabafo viralizou nas redes sociais
A médica compartilhou a experiência traumática nas redes sociais e o desabafo viralizou com vídeos que somam mais de seis milhões de visualizações. “Meu primeiro vídeo foi um pedido de socorro. Eu estava desesperada. Fui em vários colegas médicos e eles me falavam que não sabiam o que fazer e me encaminhavam para outro profissional”.
Depois de compartilhar a experiência no Instagram, Isadora disse que recebeu dezenas de depoimentos de pessoas relatando problemas semelhantes após fazerem o mesmo procedimento. A médica contou que tenta responder todas as mensagens e acredita que seus vídeos servem de alerta para outras pessoas que sofrem com as cicatrizes.
“Isso é uma coisa que só quem tem a cicatriz de acne entende. Claramente existe uma dor emocional associada. Eu tinha um complexo muito grande com as minhas cicatrizes. A ponto de se eu fosse num restaurante jantar, eu ficava olhando a iluminação, porque a iluminação que vem de cima evidencia mais a cicatriz, e escolhia uma mesa que não tivesse essa iluminação, com vergonha das cicatrizes. Então, quando a pessoa vende esse sonho, essa possibilidade de você se ver livre delas, você acaba ficando cega, né?”, desabafou.