Policiais civis fizeram buscas nesta quinta-feira (12) em endereços da médica e do pai dela, Sebastião Alves de Lima Filho, de 78 anos, e também nos endereços dos PMs Ary Neres de Morais, de 39 anos, Jack Andreson Almeida Leite, de 40 anos, e Danillo Carvalho Solino de França, de 30 anos, que teriam sido contratados por ela para matarem Huxley Luiz.
A tentativa de assassinato aconteceu no dia 16 de abril de 2020, no setor Aureny III, quando o fisioterapeuta saiu para o intervalo de trabalho, por volta das 16h.
O advogado Kaique Fraz, que representa a médica Melissa e o pai dela, disse que ainda não teve acesso ao teor das investigações e está esclarecendo às alegações junto com os clientes. Disse ainda que os autos estão resguardados pelo sigilo judicial, e por isso não poderia dar mais detalhes sobre o caso.
O advogado Paulo Roberto, que se identificou como advogado dos policiais militares, disse, por telefone, que não tomou conhecimento das acusações e deve se pronunciar assim que obtiver acesso ao inquérito e aos detalhes da investigação.
Segundo inquérito que o g1 e a TV Anhanguera tiveram acesso, o casal se divorciou em 2019 e segundo a vítima relatou à Polícia Civil, a relação entre ficou ainda mais conturbada depois desse período.
Depois da separação, o fisioterapeuta contou que Melissa passou a ter um comportamento agressivo e a persegui-lo e a fazer denúncias contra ele, relacionadas a violência doméstica.
Os investigadores conseguiram encontrar 13 boletins de ocorrência registrados a partir de agosto de 2019 pela médica contra Huxley. Para a polícia, as denúncias eram supostas calúnias que o levaram a responder processos na Justiça.
Em consulta ao sistema de processos do Tribunal de Justiça, a reportagem encontrou três processos movidos por Melissa em desfavor de Huxley. Todos são relacionados ao pedido de indenização por danos morais.
Polícia cumpre mandados contra médica e PMs investigados por tentativa de homicídio
Vítima se mudou após recuperação
Um dos boletins registrados pela médica em novembro de 2020, meses após a tentativa de homicídio, ela relatou que estava sendo perseguida pelo ex-marido. Entretanto, logo após o crime, Huxley disse à polícia que foi embora do Tocantins, retornando somente no ano de 2021 para resolver problemas pessoas.
“Essas circunstâncias demonstram indícios de um comportamento patológico obsessivo de Melissa em relação à vítima, supostamente criando fatos e se utilizando do sistema de justiça para satisfazer sua obsessão em prejudicar o ex-marido”, diz trecho do inquérito policial.
Tentativa de informações no HGP
Logo após a tentativa de homicídio, o fisioterapeuta foi levado para o Hospital Geral de Palmas (HGP). Como Melissa é concursada do estado e trabalha na unidade até hoje, ela tentou pegar informações sobre o estado de saúde de Huxley no dia do crime. Mas ela não estava de plantão no dia, segundo a polícia.
Por ter passe livre, de dentro do hospital a médica fez ligações ao pai. Os investigadores chegaram aos registros telefônicos após quebra de dados de Melissa. Além disso, testemunhas informaram que militares também estiveram no hospital para saber o estado de saúde do fisioterapeuta, alegando que estavam investigando o caso.
“Por medo de uma nova tentativa de assassinato contra Huxley, amigos e familiares da vítima passaram a se revezar no hospital com o objetivo de impedir o acesso de Melissa e pessoas não autorizadas ao local em que a vítima estava. Considerando a relação conflituosa […] não seria razoável que Melissa fosse até aquela unidade hospitalar naquela noite para buscar informações a respeito da vítima”, reforçou o documento da Polícia Civil.
A quebra de dados também possibilitou os investigadores a descobrirem que Melissa estava nas proximidades do local onde Huxley foi baleado, perto do trabalho dele, no Jardim Aureny III. Mas como ela mora e tem consultório no centro de Palmas, isso a relacionou ainda mais com a autoria da tentativa de assassinato.
Médica e policiais militares são suspeitos de tentar matar fisioterapeuta em Palmas — Foto: Ana Paula Rehbein/TV Anhanguera
O inquérito segue em andamento, pois ainda há questões a serem esclarecidas. “O material recolhido será analisado, a fim de aferir a real participação de cada envolvido, e juntado aos autos. O inquérito policial deverá ser concluído nos próximos dias, com autoria definida e respectivos indiciamentos”, informou a SSP.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) disse que a médica segue trabalhando no HGP, e que não foi notificada da ação e aguarda a manifestação dos órgãos competentes para tomar as medidas cabíveis (veja íntegra ao final da reportagem).
A Polícia Militar informou que tomou conhecimento da investigação e ressaltou que vai colaborar com as apurações no âmbito da polícia judiciária. A corregedoria da instituição abrirá procedimentos administrativos para apuração dos fatos (veja íntegra ao final da reportagem).
Veículo usado por suspeitos na tentativa de homicídio de fisioterapeuta — Foto: Divulgação/Polícia Civil
Testemunhas também afirmaram ter visto homens em um carro branco fazendo uma espécie de campana, do outro lado da rua do trabalho da vítima, e que não houve tentativa de assalto.
O homem foi atingido por seis dos nove tiros disparados contra ele, mas conseguiu caminhar, voltar para o trabalho e pedir socorro. Ele foi levado para a Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital Geral de Palmas (HGP) e sobreviveu.
O fisioterapeuta ficou internado no HGP por duas semanas e precisou ser hospitalizado novamente uma semana depois, por complicações médicas. Por medo de atentarem novamente contra a sua vida, ele mudou de estado para dar continuidade ao tratamento.
Íntegra da nota da Polícia Militar
A Polícia Militar do Tocantins informa que tomou conhecimento sobre os mandados de busca e apreensão realizados pela Polícia Civil nos endereços de três policiais militares. Por se tratar, em tese, de fatos que não tem correlação com atividade policial militar, as investigações são de competência da Polícia Civil.
Ressaltamos que a Polícia Militar irá colaborar com as apurações no âmbito da polícia judiciária e a corregedoria da instituição abrirá procedimentos administrativos para apuração dos fatos.
A Polícia Militar repudia veementemente qualquer conduta que contrarie os princípios da legalidade, da ética e da moralidade e reafirma o compromisso com a apuração rigorosa conforme a lei.
Íntegra da nota da Secretaria de Estado da Saúde
A Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) informa que não foi notificada da ação e aguarda a manifestação dos órgãos competentes para tomar as medidas cabíveis.
A SES-TO destaca que enquanto isso, a médica, que é servidora efetiva da Pasta, segue trabalhando no Hospital Geral de Palmas (HGP), onde não há reclamações sobre sua conduta profissional.